quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

CATIVO DO NATAL

Esse tal de dia de natal começa a manietar-me…
E eu não gosto de ficar prisioneiro. Nem sequer das minhas opiniões, ou das minhas leituras, ou dos meus juízos.
Ser livre é não ter espaço nem tempo.
Nada melhor que a minha liberdade sem adjectivos…
E saber- me-ia muito bem, absolutamente bem, nesse dia, em que todos estão ligados pelos vínculos das circunstâncias, eu ficar só, ter plena consciência de ser diferente, de ser um vadio solitário.
Então, poderia experimentar o raro privilégio de me expandir até aos limites do meu imaginário.
É que, estando absolutamente só, sou absolutamente livre para estar com quem me apetece. Quanto eu gosto dum tempo em que todos me deixam espaço para que eu possa viajar pelo imenso infinito.
Até posso ter-te a meu lado, podes dormir teu sono no meu colo, podes sonhar o teu sonho ébrio, a aventura planetária na loucura da música que só eu saberei fazer para ti. Poderás acusar-me de eu viver ancorado nas memórias ou nas fantasias do surrealismo. Eu prefiro as memórias. Sobretudo as memórias que nunca foram. As memórias imaginárias. AS memórias que eu, e só eu, saberei tecer de cada momento pleno, inteiro, maior que o universo….
Mas os filhotes mandam em mim. E se podemos, e devemos, questionar os pais….já não poderemos desobedecer aos filhos.
Vou andar de Anais para Caifais quando só queria estar com a minha música dentro das lembranças, ou com o sonho das lembranças dentro da música. E tudo recheado dum tempo sóbrio e natural, amparado unicamente e materialmente num queijinho tenro e exótico, que poderia ser de Azeitão, e num vinho capitoso e atrevido das margens do meu Douro…
Tudo o resto seria espaço para um sonho sublime.
Que todas as noites te sejam grandes como esta…
Um abraço tonto

sábado, 20 de dezembro de 2008

CRONICA DE BURROS ANTIGOS

E não fique ninguém preocupado que não estamos a procurar qualquer referência metafórica.
Foram burros e burras a sério. Orelhudos e de quatro patas. Daqueles dóceis e servis quadrúpedes que povoam os recintos Ibéricos com notável densidade e que estão protegidos por medidas governamentais. E que até proporcionam subsídios de 17 contos /ano aos seus proprietários.
Pois os burros estão a ganhar dignidades novas e a subir de préstimo. E a ter muitos valores e importantes participações. E a mexer com as economias. E a merecer notícias e crónicas.
E isto tudo porque há burros muito notáveis, com uma forte identidade e reconhecido pedigree.
A primeira reportagem de burros vem-nos da Catalunha onde um agricultor anda a tratar de exportação de sémen congelado duma raça indígena, muito valorizada porque muito resistente, embora de pequena estatura. Dizem-nos que no princípio do século este jerico era muito abundante na península, mas que agora é raro.
A subida e serena inteligência do asno torna-o de grande interesse para certos amanhos, e para o cumprimento de especialíssimas e rudes tarefas e de arriscadas empresas. Como por exemplo o contrabando e o trâfego de drogas várias.
E foi assim que há dias foram apanhadas na zona do Cabo Espichel umas quantas mulas, aparelhadas a preceito, no transporte de tabaco de contrabando. Mas as burras, embora muito práticas naquelas andanças, foram apanhadas pela polícia e estão detidas, à ordem do juiz, num Regimento de Cavalaria.
Consta que o juiz as pode mandar executar. O que eu acho um perfeito disparate. E um atentado contra o aprimoramento da raça dos burros.
O que estaria certo era trazer o tal burro com pedigree da Catalunha para fecundar as inteligentes burras contrabandistas do cabo Espichel. Exactamente como andaram a fazer com as éguas de Alter a quem serviram um garanhão castelhano.
E que diabo! será que as burras, assim inteligentes, não poderão ter direito a uma amnistia?

sábado, 13 de dezembro de 2008

NATAL DO HEREGE

O natal é um arrepio
Porque não há natal sem frio.
E isso de ir buscar muito de frio e neve
Para fazer natal é mais safado do que divino…

Ai como ainda sinto frio nos meus calções de cotim fino
E nas chancas de coiro branco
A caminho da novena dum menino
Que havia de nascer para salvar o mundo.

Minha mãe ficou santa pelos meus cinco anos de idade
E os santos são todos iguais, lá bem no fundo,
Sempre obrigam os outros ao martírio por certeza da sua santidade.
Dizem que o tal menino nasceu sem pai,
Ao bafo dum burro e duma vaca
Que assistiram ao parto duma mãe ainda virgem.
AI!
(Só burros e vacas seriam capazes de amparar tamanha absurdo!)
Esse menino, nascido na manjedoura, haveria de ser o barão dos barões
O rei dos reis, o salvador dos mundos onde tudo eram jardins e alegrias
Uma espécie de Bush mas sem balas, bombas e canhões
Para meter na sacrossanta ordem os incréus, os infiéis, e até os cavalheiros solenes dados à pedomania…
O menino ia ser um milagre abismal, dum poder total
Que faria desaparecer a fome, a peste e a guerra com um gesto, um olhar, uma oração…
Tudo muito mais que o peco 25 de Abril cujo programa,
No fio da espada,
Se ficava pela paz, pão, habitação, liberdade e educação…
Certo que os tropas de Abril eram gajos boçais
Com toda a força só na escopeta e na bomba,
Enquanto o menino era filho do deus único
Fecundado a jeito, por um anjo vestido de pomba…
Hoje, neste frio humano, tenho uma crença serena e celestial
Que me atira para o conforto da absoluta indiferença
Onde agarra, firme e tranquila, a âncora de ateu da minha crença radical.

Dezembro 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Conta-me uma estória de meninos
Ou pinta-me as cores dum malmequer
Ou mostra-me o vento na alta madrugada
Anda
Que eu farei pela noite dentro um sonho
E no sonho um céu E no meio do céu
Em forma de pássaro branco
O teu nome

sábado, 8 de novembro de 2008

CARTA PARA UM AMOR INÚTIL

Meu amor,
Vou escrever a tu.
Tem eu aqui um papel com as coisas todas da tal máquina de vídeo que mando já já com uma fita vermelha ao lado. Ele diz tudo. O papel. Ora diz?
Não mando no fax, nem que queira, porque o fax não quer passar coisas para os lados teus. Eu já tentei mandar ao sítio de Hong Kong e não apeteceu. Depois queri mandar ao Salavisa e também não quiz apetecer de entrar. Não sei se era mau aqui ou aí. Daqui a Lisboa foi de fax, mas é perto pouco pouco. E Macau é longe mais muito. Muito tanto que se não fosse tanto eu já estava a ir aí.
Logo mesmo vou a Coimbra. Vou já antes do dia da quarta feira e durmo primeiro antes do hospital. É mais bom melhor que estar a correr no dia da noite muito noite.
Hoje fui na posse da minha Assembleia na minha terra. Mas eu não tenho terra, e então não posso dizer minha quando não é. Pois. Eu até nem sei o que tem minha. Tu sabe?
Aqui anda tudo feio muito tanto que doi só de pensar. A gente pequena tem pouco que coma e depois anda por assaltos. Ou também em coisas que parecem mal. As gentes querem mais e o chefe não quer. Ou quer menos. Agora, um dia fica tudo em dias de greve a ver quem pode mais.
Mas hoje eu tem mais sono que antes porque já dormi pouco. Eu até nem gosta nada nada de dormir. Antes queria dormir mais muito contigo comigo. Assim tu sentada no colo meu depois de. Tu sabe ainda como foi. Não? E sabe ainda já como vai ser? Ainda?
Anda muito a chuva cá. E eu não gosto. Mais gosto de sol. Melhor era naquele sítio bom que tu tinhas nas Filipinas. Que tão bom!
Beijinhos tontos e tantos tantos para chegar daqui a ti. Leva-me. É? Gosto ainda mais que tu nem sabes.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

AS PALAVRAS

Todas as palavras são atrevidas quando são palavras
E são atrevidas porque são eminentemente humanas.
Só o humano sabe da palavra, procura a palavra, descobre a palavra, ama ou odeia com palavras e sente que a palavra quer entrar mesmo sem prévio aviso.
As palavras somos nós:
Há palavras redondas e inertes, palavras definitivas.
Há palavras acabadas sob um gesto e palavras sem gesto.
Há palavras que dizem tudo sem dizer coisa nenhuma..
Há palavras extremas e grandes palavras pequenas.
Há palavras repetidas que nunca são exactas: nem sequer sentidas.
Há palavras atadas à conveniente circunstância.
Há palavras doces e palavras azedas.
Há palavras verdade exactamente iguais às palavras mentira
Há palavras perdidas e outras prisioneiras. Também há palavras fora de tudo quando tudo está fora das palavras.
Há palavras abertas como água e palavras fechadas
Há palavras que voam ditas e outras palavras que moram escritas
Há palavras lume e palavras afogadas, mortas, em decomposição.
Há palavras rebeldes, outras bem comportadas e muitas de simulada cerimónia. São as palavras do quando…Porque há palavras tempo e palavras momento muito diferentes fora e dentro.
Há palavras virgem, vertigem ou esperança e sempre à espera da estrela matinal.
Há palavras gume, palavras de ciúme, palavras mansas ou de pecado original
Há palavras perfume em feitio de flor…
Há palavras absolutas, infinitas, tão infinitas como a cor do amor.
Mas sempre há sentimentos que nos moram por dentro e não cabem nas palavras.

domingo, 26 de outubro de 2008

O MEU MAR

Hoje é dia de ouvir o mar.
Esquece as gaivotas
que são pássaros solenes e soberbos
mas inúteis
Esquece as gaivotas
e ouve o mar que é tudo:
O ventre azul dos mistérios da indecifrável origem
O coro das sereias do eterno encantamento
A tristeza dos silêncios de cada momento
O caminho do sol aberto por todas as manhãs.

Esquece as gaivotas
E deixa que o mar entre
e lave
e leve
o definitivo corpo da flor.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SEM DONO

É bago a bago que colho os dias
Sob a indiferença do tempo.
Não.
Com toda a minha indiferença perante o tempo.

Eu sei que numa noite de luar
O tempo será três sinfonias
E que, depois, ao acordar,
Terei um arco enorme e colorido de harmonias…
Mas eu sou pior que o deus me livre
E já passei, sem retorno, para um jardim sem dono
Onde faço comigo o que me dá na gana…

Ser livre tem que ser assim:
Os outros são tudo para mim
Mas, depois dos outros, não me importo de ser um safardana
Sem deus, sem pátria, sem telha, sem nada,
Quero ir ao limite de experimentar o sublime sabor do abandono.

SEMPRE SUAVEMENTE

Tenho uma gaivota na minha janela.
É uma gaivota suavemente branca que veste uma capa
Delicadamente cinzenta.

A minha gaivota é minha confidente
Ouve todos os meus segredos
E voa muito silenciosamente
Naquele voo inteligente que não pede esforço
Nem leva destino marcado.

Anda, vem aprender a voar com a minha gaivota...

O POEMA DO AMANHÃ

Mora comigo um poema atento
Muito tão atento que fica sempre desperto
Particularmente entre a distância e os silêncios.
É um poema que sempre me confunde, que não distingue o pão e as madrugadas, a música e os pássaros, o mar e as árvores.
Mora comigo um poema atento
É um poema transparente e aéreo.
É um poema nu e brando como as penas do afago tímido
É um poema que desabrocha pelas noites carregado de perfumes.
Depois, há sempre um susto
Que sempre faz adiar o poema para o dia que há-de vir.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

SEPULTADO NA GUERRA

É o momento do poema que não sei dizer.
Levaram-me a música
e as pautas de aprender
os movimentos da canção.

Agora
fico-me

num gesto de mão
a embargar o poema.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Os Sinos são da cor da erva madura com cheiro a orvalho quando amanhece.
Gosto deles.
Nos campanários altos fazem músicas inocentes que parecem alegrias e tristezas.
Aprendi a gostar dos sinos depois de odiar as novenas nas madrugadas geladas.
Não.
Talvez goste dos sinos porque faziam uma música misteriosa que nem as barbaridades do prior conseguiam estragar
Verdade que nunca faltava a essas novenas para contentar os vícios espirituais de minha mãe.
E prova de que não sou pessoa de ódios é que dos sinos que me tocavam para as missas do cedo e do frio, ouço ainda hoje, músicas duma filarmónica de Sergi Celibidache

domingo, 5 de outubro de 2008

A COR DO SILÊNCIO

Diz-me rio, ave, vento marinho,
Conta-me árvore, pedra do caminho,
A cor deste silêncio.

Amanhã haverá nuvens, talvez, e depois chuva,
Ou mesmo um temporal
Que deve ser bravo e tropical
Para que possa romper o espesso véu
Que branco ou de negro
Pesa do céu.

Cai no feitio inerte duma espuma de paz
Mas a paz do silêncio é um buraco íntimo
Um tormento gelado
Uma pia agonia
Um ruído obsceno
Num cenário ameno

Conta-me, flor de rosmaninho,
A cor deste silêncio.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ESCREVER

Escavo, escravo, escrevo.
Tudo e todos exigem que de quanto escrevo tenha que nascer um projecto, um louvor, um hossana, uma dentada num corpo qualquer.
Nunca farei nada a mando, faço o que a minha natureza pede.
E vou até onde o sono me apetece.
Não tenho que destinar nada para ninguém.
A escrita não é ouro de lei, nem encomenda que se tece.
A escrita não tem venda.
Escrevo porque me apetece.
Escrevo porque a escrita acontece.
Quando o fogo, o luar, um desaforo entram na razão e me abanam as cordas do coração.
Então,escrevo como quem explode
E não cuido dos estilhaços das palavras
Muito menos dos campos que se lavram à custa do aparo do meu arado
que teima em correr sem rumo e sem reservas, seguindo o luar
à procura dum norte sem tino.
Sou como a erva do prado verde.
O orvalho matinal aquenta-me as loucuras do colorido outonal.
Escrevo como se toda a gente andasse na rópia das minhas festas
Escrevo por prazer depois de ter uma mensagem qualquer,o leite de uma mulher amada, uma aventura falhada…
Escrevo para me defender como escrevo para ofender.
Escrevo em qualquer sítio, rijo ou mole, no panal de espanto
ou no mural escondido onde não se veja.

Mas o que eu gosto mesmo de escrever é uma grossa asneira na porta da igreja.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

CARTA PARA OS SILÊNCIOS

Lembro-me duma melodia branca.
Talvez azul para ser tão infinita como o céu.
Com certeza azul para ser tão viva como o mar.
Lembro-me da melodia porque nunca a esqueci.
Lembro-me porque sempre me doeu o silêncio.
O silêncio é um barulho ruim, uma turbulência permanente, uma tempestade regular.
Os deuses castigam-me com silêncios.
Nem eu sei compreender porque fico refém dos silêncios.
Deixo-me prender numa muralha transparente e violenta de que furiosamente me quero libertar.
Se calhar não quero.
Porque é esta conduta que faz a história dos meus hábitos.
Nunca me deixei molestar por muita coisa, e sofro sofrendo de sofrer, e magoo um dói de magoar, e grito um grito de amedrontar…
Às vezes preciso de ser péssimo.
Eu nunca soube e nunca saberei resistir a um desafio de circunstância.
Sou mais arrastado pelo desafio que pelo encantamento.
Agarra-me mais a provocação que a sedução.
Procuro uma voz no acaso dos números.
Uma voz com sabor a violetas.
Uma voz com afectos anónimos.
Uma voz que se abra em ternuras como a fonte virgem onde ia colher água na minha infância.
Não imagino o que me possa fazer falta.
Talvez um seio.
Talvez um bafo com sabor a orvalho.
Talvez uma penitência para me redimir destes silêncios brancos.
Amanhã vou encontrar um rosmaninho para namorar comigo…

terça-feira, 9 de setembro de 2008

UM DIA

Um dia, dar-te-ei uvas em vez de rosas
Ou um pêssego rosado no lugar das palavras poderosas
Que procuram a face dum poema.

Um dia, dar-te-ei um linho branco, ainda estriga,
Para que possas fiar um norte, um sul, um novo lema
Tudo dentro de tudo, e sempre fora de gestos duvidosos.

Um dia, à moda antiga,
Far-te-ei um hino, um salmo, um leque de afagos carinhosos

Um dia, iremos descobrir que o tempo, o espaço, as melodias
Tudo cabe num açafate de harmonias.

NO ESCURO

Não gosto de chegar quando tu dormes.
Se dormes, enquanto dormes, estás fora da minha velada adoração.
Olho-te como anjo, como nuvem ou como nevoeiro,
E fico à espera que o galo cante
Ou que um sonho se levante
Quando a madrugada acordar.


Pela noite da noite nunca há devoção
Andamos e topamos com o tronco das flores
Perdidos de amores
E acordaremos entre as dúvidas e as saudades
Entre o sonho e as margens das nossas liberdades
Ouvir-te-ei como se no campanário
Um alerta tocasse o meu diário...

Qualquer hora é hora de capela,
Hora de te escrever um girassol na lapela,
E depois olhar o sol, como se o sol fosse o meu irmão
Como se o trevo, a leituga, a salsa, o ar
Corressem no desencontro da sua natureza de mão dada
De mão na mão, de mão na mão, de mão na mão!

VILA REAL

Anda lá fora a natureza a descer pelo Corgo aqui ao lado.
Eu vou à varanda e falo com a água a quem conto segredos de viagem,
Aventuras diurnas e sonhos nocturnos de saboroso pecado
Desgraças de encantamentos que fugiram na aragem da rua…
É então que vejo a beleza do outro lado das formas
E que tenho vontade de lembrar,
Ou de esquecer, sob o mistério da lua,
Os dentes alvos numa cara banal e absolutamente regular…

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O MEU SETEMBRO

Eu nunca faço anos.
Inventaram-me um dia para nascer
Mas eu ainda nem nasci. Não quero ser cicrano ou beltrano. Muito menos lusitano
Hei-de ser eu, nado e criado, quando me apetecer:
É que não sou pessoa de concordar com o que quer que seja
Antes de ser consultado.
Ninguém me perguntou se eu queria ou não queria nascer
Nasci sem ser culpado: fui enviado!
Muito menos me perguntaram o tempo e o lugar para ter certidão
E para eu recusar basta que a capital seja Lisboa
E ninguém, previamente, me explicou isso de ser cidadão
Nesta terra de lorpas onde uma pessoa
É quase um cão
Quase um zaganeiro qualquer tirado do ribeiro
Menos que um faquir das Índias viajeiro
Uma espécie de fuinha assustada, malhada, que no prado se anichou,
Muito pior que o esquilo trepador e feliz entre os bosques que o frio purificou.

Por favor, não me digam nada de nascer!!!!!!!!!!
Não sei quando, nem como,nem porquê. Nem sequer um talvez...
Mas uma coisa é certa: não quererei nascer aqui…
Não quererei crescer entre cavalos e burros e à sua mercê
Nem entre patos idiotas que valem milhões porque têm coice.
Perdoam-me os amores e os amigos!
Podem ter a certeza do tamanho do tempo;
Que quando eu nascer todos vocês estarão comigo. Isto vale um testamento!

Setembro de 2008

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O MEDO

O medo não é nem preto nem branco.
O medo é da cor da ansiedade, da cor da falta de ar.
O medo não fala. Grita. O grito é sempre a forma do medo.
O medo é oval. Tão oval que parece a origem de tudo.
Quando o medo aparece muito repentinamente é um susto.
O que vem sorrateiro e avisado já não é susto, mas pode continuar ser medo.
É assim que há medo do trovão e medo dos silêncios.
Quando o medo é muito em demasia já é mais que medo: é pânico!
Este medo nunca é inteligente.
Aliás, qualquer medo é parvo. Porque não vale a pena ter medo...
O medo é sempre inútil. É ainda mais que inútil: é um prejuízo.
O medo rouba a lucidez!
Rouba de tal forma a lucidez que frequentemente temos medo de coisa nenhuma. Temos medo do que já não é...
Quase todas as pessoas têm medo dos mortos e medo da morte.
Sobretudo têm mais medo dos mortos que dos vivos.
Este comportamento é imbecil. Um morto morreu. Já não interfere com a vida.
É acabado como a noite é acabada quando acaba o dia.
Mas as pessoas têm medo das noites e não dos dias.
Na verdade, na noite dorme-se.
Todavia, é a dormir que temos pesadelos.
Pesadelos são medos de coisa nenhuma...
Não percebo nada do que seja o medo...

Também não tenho medo de gostar de ti!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

AUSÊNCIA

Desço por entre os aromas maduros de Outono
E
Ao sabor do teu perfume
Embala-me uma tontura afrodisíaca

À noite procuro a lanterna dos teus olhos

domingo, 20 de julho de 2008

NAMORO

Lembro-me duma melodia branca.
Talvez azul para ser tão infinita como o céu.
Com certeza azul para ser tão viva como o mar.
Lembro-me da melodia porque nunca a esqueci.
Lembro-me porque sempre me doeu o silêncio.
O silêncio é um barulho ruim, uma turbulência permanente, uma tempestade regular.
Os deuses castigam-me com silêncios.
Nem eu sei compreender porque fico refém dos silêncios.
Deixo-me prender numa muralha transparente e violenta de que furiosamente me quero libertar.
Se calhar não quero.
Porque é esta conduta que faz a história dos meus hábitos.
Nunca me deixei molestar por muita coisa e sofro sofrendo de sofrer, e magoo um dói de magoar, e grito um grito de amedrontar…
Às vezes preciso de ser péssimo.
Eu nunca soube e nunca saberei resistir a um desafio de circunstância.
Sou mais arrastado pelo desafio que pelo encantamento.
Agarra-me mais a provocação que a sedução.
Procuro uma voz no acaso dos números. Uma voz com sabor a violetas.
Uma voz com afectos anónimos.
Uma voz que se abra em ternuras como a fonte virgem onde ia colher água na minha infância.
Não imagino o que me possa fazer falta.
Talvez um seio.
Talvez um bafo com sabor a orvalho.
Talvez uma penitência para me redimir destes silêncios brancos.
Amanhã vou encontrar um rosmaninho para namorar comigo…

segunda-feira, 14 de julho de 2008

TARDE E CEDO

É na eira da minha infância que vou procurar a espiga rainha
E na espinha rainha o milho rei.
(Não sei porquê
Nunca entendi essa procura miudinha
Duma espiga rainha
Para que cada um possa desbragar em beijos
Os seus desejos.)

Mas eu quero a eira da minha infância
Porque será na eira de pedra quadrada
Que verei os teus caracóis
O teu olhar inquieto
O sobressalto do teu gesto
(Enquanto os pardais voam o voo incerto
E os goivos simplesmente florescem)

E não deveria querer mais nada para mim
Nem sequer uma palavra
Ou um ramo de alecrim
Pois eu sei que para ti não haverá antes nem depois
E que eu serei (tarde e cedo) a vulgar circunstância.

sábado, 12 de julho de 2008

O PAÌS DO ABSURDO

O INEM não tem dinheiro para sustentar as despesas actuais e muito menos pode fazer a aquisição de três helicópteros que se destinariam a transporte de doentes com urgências específicas e de distâncias não viáveis para as viaturas em funcionamento.
Eu não sou médico nem técnico dos serviços de saúde. Mas sou utente e sei, na própria pele, o que é salvar a vida por cinco minutos…E já lá vão mais de uma dúzia de anos…
Desde essa aventura, em que quase foi para o outro lado, passei a ser cliente habitual, para um controle regular, do funcionamento do músculo cardíaco.
Cumpro com rigor o preceituado médico, quase não preciso de muitas análises porque sei pressentir eventuais anomalias, mas vou de Viana a Coimbra, regularmente, para fazer controles e ajustamentos.
Sou, portanto, um utente dos serviços de saúde com larga experiência pessoal e conheço bem as diferenças de trato e de eficiência entre os hospitais periféricos e, no meu caso pessoal, os HUC’s... Estou mesmo proibido de tomar qualquer substância, receitada numa emergência, sem prévio contacto telefónico com o meu cardiologista...não vá o diabo tecê-las. Que nisto de médicos, há médicos e médicos…
O anterior ministro da saúde, Correia de Campos, tinha toda a razão quando teimava em apetrechar com tecnologias de ponta certos hospitais e viabilizar o transporte rápido dos necessitados de cuidados específicos para os hospitais com as competências adequadas...
Um hospital não é uma tasca e para garantir uma boa eficácia está obrigado a fazer regulares e caríssimas actualizações que devem ser permanentemente utilizadas para que sejam uteis e rentáveis...
Neste país de egoísmos e de absurdos abriu-se uma guerrilha contra o ministro porque as crianças iam nascer fora do terrunho dos antepassados… como se o local de assistência à maternidade não fosse a dependência dum expediente técnico-assistencial.
Diga-se, em abono da verdade, que o ministro não sabia ser pedagógico e era estupidapente pesporrente no trato.
Mas a sua visão estrutural da organização dos serviços de saúde era, em nossa opinião, absolutamente correcta.
Sócrates despediu o ministro porque gosta muito mais do afago eleitoral e das obras de emblema do que das soluções estruturais...
Agora parece que o INEM não tem dinheiro nem para sustentar as actuais estruturas, e muito menos terá verbas para fazer a compra dos helicópteros de transporte das periferias transmontanas e alentejanas para os competentes centros de urgência.
Todavia, continuarão a teimar no inútil projecto do mega aeroporto de Alcochete que só uma pequena minoria privilegiada poderá vir a utilizar, mas que todos iremos pagar.
E o mais absurdo é que iremos pagar as vaidades estúpidas à custa da supressão da elementar assistência de emergência médica!!!!!!!!!!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

AMAR É URGENTE

Abre a alma para a vida
E deixa entrar as flores, o mel, um perfume jovem.

Olha que tudo é transparente
Quando é puro.
Não deixes que os teus olhos fiquem baços
Não deixes a tristeza tomar o coração
Ama.
Ama, nem que seja um pássaro azul e viageiro.
É.

domingo, 6 de julho de 2008

O AVIÃO A PIQUE

O preço do crude vai continuar a aumentar enquanto alternativas válidas não tiverem capacidade para destronar o petróleo. Verdade é que para além dos combustíveis sobram ainda muitas áreas no setor químico a viver do fedorento óleo que certos pontos da terra, onde os abexins são donos ao colo dos americas, jorram com misteriosa abundância. São abexins mas de conluio com esta soberba e "inteligente" administração americana do B fizeram desencadear uma subida de preços que põe às aranhas governantes, que são sempre os "bem governados", dos países consumidores. Claro que nesta classe de consumidor só está o Zé Pagode. Os outros têm carros e combustíveis pagos pelas “entidades governamentais ou empresariais”.
Saltou-me logo à lembrança aquele anexim do meu avô que numa bela metáfora traduzia tudo isto assim: "quando o mar bate na rocha quem se f….. é o mexilhão!" É isso mesmo. O alteroso preço do crude bate-nos na racha com extrema violência. E somos nós, o mexilhão… E enquanto mexilhão somos nós quem se fornica...
Há dias, um daqueles sábios, que por acaso nem mora na nossa enciclopédica capital, explicava, com lógica meridiana, que neste contexto de preços de crude o transporte de avião vai cair a pique… É que enquanto é possível encontrar alternativas eléctricas para os mais rápidos meios de transporte ferroviário, para o avião não há protótipos eléctricos…
Não foi preciso matutar muito para me rir, mais uma vez, do grande projecto de Alcochete e da sua indispensabilidade para a independência nacional (devem ser algumas empresas que distribuíram abadas de maçarocas a ministros …a contar com o ovo no cu da galinha!).
Olhei este país, que já corri e percorri de lés a lés, por abafados estios e em dias bravos de sincelo, e mais uma vez dei conta que o nosso aproveitamento hídrico é ainda um brinquedo, como folclórico é o panorama eólico para colher energia eléctrica…
Mas… (esta não lembra ao diabo!) os melros pressurosos nos projecto do mega aeroporto e nas redes moderníssimas de auto estradas….ainda não deram conta que muitas e muitas locomotivas são movidas a…gasóleo!
A trampa também podia servir para condecorar certos governantes, senhor Presidente da República!

sábado, 5 de julho de 2008

O FUTURO A VOAR

SEM NECESSIDADE DE ALCOCHETE!


Pois esse é o AEROSCRAFT, que será o maior objeto voador já criado pelo homem quando entrar em serviço. Por enquanto está a ser construído um protótipo com operacionalidade total prevista para o ano de 2010. Terá o tamanho de dois campos de futebol e carregará até 250 pessoas com o conforto de um hotel, equipado com restaurante, bar e um grande lobby panorâmico. Possuirá quartos para os viajantes e poderá também acomodar um cassino em seu pavimento inferior.

Será como um Queen Mary voador.

Ira decolar e aterrar verticalmente como um helicóptero, auxiliado por seis grandes hélices movimentadas por motores à base de células de hidrogênio, que não passarão vibração ou barulho aos compartimentos de passageiros.

Diferente dos seus ancestrais, os dirigíveis, o Aereoscraft não será mais leve que o ar, pois seus 400.000 metros cúbicos de gás hélio representrão apenas dois terços do peso total da aeronave, que se manterá no ar por conta dos grandes motores que o elevarão com facilidade, viajando até uma velocidade máxima de 280 km/hora, com expectativa de atravessar os Estados Unidos de costa a costa em dezoito confortáveis horas.
Porque não vai voar muito alto, como os aviões a jato, o Aeroscraft não necessitará de pressurização, o que permitirá o uso de grandes janelas envidraçadas, pelas quais os passageiros se poderão deliciar com as paisagens aéreas vistas a 2.400 metros de altura.
O mamute voador está a ser fabricado pela Worldwide Aeros Corporation, uma empresa californiana de propriedade de Igor Pasternak, que é também também o arquitecto desta futura maravilha que não vai precisar de ALCOCHETES!!!!!!!!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

DESENHAR FUTUROS

Dentro do peito moram as dores que desenham o futuro…
Mas o meu peito não é um adivinho.
Nem sequer é morada dos pensamentos que são vadios
Ao encontro dos sem teto, dos sem abrigo,
Dos que dormem em chão duro…
Não sei dizer o que dói, mas sei que dói,
E sei que as dores moram no peito.
Se calhar era preferível nem ter peito,
Que o peito não sabe nada do que se passa, do que é feito,
Não serve de escaninho de doces memórias,
Nem sequer sabe distinguir a água do vinho
Mas é verdade que dormimos sempre com um coração moído de estórias…
Como se o coração não fosse mais que um simples motor de rega
Como se o coração, que mora no peito,
Não fosse senão para dar sangue sem ter nada mais em que pensar.
Muito menos o coração pode alimentar a preocupação de projectar
Aliás, pensar é uma tarefa cada vez com menor prática.
Acho que não temos nada que pensar.
Pensar é perverter.
Temos é que viver.
E viver depressa, enquanto é tempo…
Que o tempo é uma gaivota inquieta
Um vento de inverno, mas quente e com música de opereta…
Mas teremos que pensar no tempo que temos para viver?
Como se cada um fosse uma couve flor?
Como se cada um fosse um alecrim doirado pelos Outonos?
Como se cada um se vestisse de insecto para ir à festa?
É claro que não entendes nada do que quero dizer, meu perdido amor!
Eu também não.
Mas se digo é porque há razões para dizer.
Sobretudo dizer-te que é dentro do peito
Que moram as dores que desenham o futuro...

AI O MEDO!

Há coisas poucas de que tenho medo...
Direi até que de nada tenho medo.
O medo é um grito aflito no deserto dos silêncios...

Mas há coisas que me fazem urticária, que provocam incomodidade visceral, que me doem no corpo e me arranham a alma...
Todas essas coisas são as coisas que não compreendo.
Quando compreendo o que quer que seja fico acoitado na normalidade, na conformidade da natureza, na vulgaridade da água que vem da fonte e vai até ao mar....
Arrepio-me é quando tudo acontece ao contrário.
Aí não entendo nada e todo eu sou o avesso, a sangria de estar, a dor que vai do pé à cabeça e que faz de tudo o contrário do que é...
Dói-me.... dói-me muito, não ter razões, nem margem, nem um fio de lógica para acreditar…
Fazer a implosão do monumento da verdade... Dói muito..
Ai se dói!
Dói agora e vai doer durante a eternidade...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

ANUNCIAÇÃO

É bago a bago que colho os dias
Sob a indiferença do tempo.
Não.
Com toda a minha indiferença perante o tempo.

Eu sei que numa noite de luar
O tempo será três sinfonias
E que, depois, ao acordar,
Terei um arco enorme e colorido de harmonias…
Mas eu sou pior que o deus me livre
E já passei, sem retorno, para um jardim sem dono
Onde faço comigo o que me dá na gana…

Ser livre tem que ser assim:
Os outros são tudo para mim
Mas, depois dos outros, não me importo de ser um safardana
Sem deus, sem pátria, sem telha, sem nada,
Quero ir ao limite de experimentar o sublime sabor do abandono.

O FERRARI DO PEDINTE

Ela é feia, seca, tem voz de fuinha, um toutiço à século dezanove. Manda no PSD e ninguém lhe encontrava o fio duma ideia para construir um projecto social válido, alterativo e alternativo a esta pândega governativa do dito cujo engenheiro socretino.
Eis senão quando, a avozinha rapa da manga um lume fino e sedutor: já não estamos nos tempos faraónicos e os projectos de super-aeroportos e trens de alta velocidade, ditos TGV por ser esta a sua matriz primeira por terras de França, assim como se fossem as jeens dos comboios…(eu gosto destas soluções metonímicas; vêm de encontro ao meu saber e provam que o meu saber não é tão inútil quanto eu julgava…) Estas bondades tecnológicas não têm cabimento num país pobreta como o nosso, onde há graves défices na educação, na saúde e em todas as competências produtivas.
Mais, disse a avozinha de timbre rachado na voz, quem paga esses luxos serão todos os portugueses, mas quem vai fruir ou usufruir dessas aventuras tecnológicas será uma percentagem mínima dos 10 milhões de pagantes que todos somos.
É claro que logo se topa aqui uma imoralidade berrante: todos pagam para que uma ninharia de privilegiados possa desfrutar dos luxos, das pompas, dos cómodos dos moderníssimos trastes que a supercivilizada sociedade pode oferecer.
Mas há mais; muito mais. Querem fazer um mega-aeroporto para acolher o quê? Voos domésticos?
É que mais de 95 % dos voos que chegam ou saem da Portela têm origem ou destino nos países do espaço comunitário… E que se saiba este espaço terá muito brevemente mais de 30 países no espaço europeu.
Restam as Áfricas, as Américas, as Ásias e a Oceânia.
De África aparecem, eventualmente, voos dos PALO’S. O mesmo acontece com as Américas.
As formalidades para voos domésticos não têm que saber: é comprar o bilhete como se partíssemos duma estação de camionagem ou dum apeadeiro do comboio. Assim vai acontecer quando terminar esta psicose idiota dos atentados nos aviões.
Que a estória dos atentados é um faz de conta para vender mais caro!
Qualquer imbecil sabe que é muito mais fácil fazer descarrilar um comboio do que mandar abaixo um avião.
Mas quem tiver dúvidas da percentagem referida que vá ao site da ANA controlar chegadas e partidas e ficará esclarecido….
Mas há mais, muito mais que vos contarei daqui a dias…
Pena que a avozinha seja tão feia e triste de figura, E tão azeda de modos!

sábado, 28 de junho de 2008

TODAS AS SAUDADES

Hoje é o meu dia de todas as saudades.
E são tais e tantas as saudades que duram há mais de sessenta anos.
Eu tinha um pai, e era menino
E o meu pai era um pouco menos menino do que eu nas idades.

Um dia, que tinha o nome de hoje, dizem que veio um deus cretino
E que esse deus, poderoso de todos os poderes, eterno e criador
Levou o meu pai
Sem compaixão pela dor e sem lhe pesar o amor terno.

Este deus só podia ser um deus insano e de maldades
É que eu, no tempo de ser avô, ainda hoje continuo morto de orfandades.

Se calhar é por isso que odeio os deuses
E muito mais aquele deus que me ensinaram ser todo poderoso
E infinitamente justo e generoso; e ainda carinhoso e rigoroso!

Se deus houvera, bastava que ele fosse sensato e razoável,
Para que uma criança não tivesse que crescer nas varadas da vida
Sem o afago duma duma orientação perante tantos caminhos sem saída.

Pai, eu vou precisar de ti mesmo quando eu morrer
Se eu morrer...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

RESPOSTA A UMA PROVOCAÇÃO

Original Message -----
From: Jose Candido Rodrigues
To: Undisclosed-Recipient:;
Sent: Friday, June 27, 2008 12:40 AM
Subject: Fw: A Minha Pátria é a Língua Portuguesa.


Por acaso alguém leu "os Lusíada" no registo gráfico original?
Por acaso alguém comparou as duas primeiras edições ( registos gráficos, com grafemas da época) que são as duas de 1572?
Por acaso alguém reconhece o registo de af coufaf arduaf e iluftrofaf? Alguém sabe o que isso seja?
Por acaso alguém leu os registos originais de Eça de Queiroz?
Por acaso alguém se apercebeu dos diferentes registos grafemáticos dos diversos heterónimos de PESSOA?
Acho que devemos ter juizo e não confundir a necessidade de dar registo significante e universal à LINGUA PORTUGUESA... com birras ortográficas que só podem traduzir um comodismo ideota. Lembrem-se: A MUDANÇA É SEMPRE UMA PRÁTICA VIRTUOSA!!!
É que a alma da LINGUA está na fala não está no registo grafemático que é sempre resultado dum acordo. O mesmo é dizer duma convenção.
Alguém se preocupa com a ortoepia?
Já deram conta que o Português falado em Portugal é uma língua velha, surda, que vive das tónicas e apaga as sílabas átonas?
Sabiam que o factor de unidade da China está na escrita e que um falante cantonense não compreende um falante mandarim ainda que a escrita seja a mesma?
Acho, francamente, que a língua não é uma coutada, uma picareta, uma charrua, um veículo lunar... É isso Tudo. E tem que se preparar para ir à lua como vai ao bar, para transgredir como para julgar, para ser pecado e virtude.
Essa é a minha língua. Carregada de homónimos, de homófonos, de parónimos...
Deixem a língua ressuscitar a cada instante e não façam da língua uma velha meretriz ou uma virgem casta...
Zédomar


Eis a provovocação:
A Minha Pátria é a Língua Portuguesa
De fato, este meu ato refere-se à não aceitação deste pato com vista a assassinar a Língua Portuguesa.
Por isso ... por não aceitar este pato ... também não vou aceitar ir a esse almoço para comer um arroz de pato ...
A esta ora está úmido lá fora ... por isso , de fato lá terei hoje de vestir um fato
Concordas com o modo de escrever acima exemplificado?
Se não concordares, clica na imagem que se segue e assina:

domingo, 22 de junho de 2008

LEVIANO

Tudo morava numa espectativa leviana
Envolta em núvem e confusa na onda quotidiana
Donde mirava um acidente picado de apetite…

Mas um sol nasceu na penedia
Ali, cercado de azul depois do meio dia…

Ainda na memória dança o poente
E uma tentativa quente
De te prender com nó de marinheiro
Apertado e firme e também doce
Por forma a levar-te ao cativeiro.

E assim damos mãos, e beijos, e abraços
Neste enlace de menino, sereno e turbulento,
Ousado, eufórico e sem tento,
Que faz anos sem dar conta
Numa alegria tonta
Como se a eternidade
Não tivesse mais que a nossa idade.

terça-feira, 17 de junho de 2008

POEMA QUE NÂO QUER SER

>
Mora comigo um poema atento
Muito tão atento que fica sempre desperto
Particularmente entre a distância e os silêncios.
É um poema que sempre me confunde que não distingue o pão e as madrugadas, a música e os pássaros, o mar e as árvores.
É um poema transparente e aéreo.
É um poema nu e brando como as penas do afago tímido
É um poema que desabrocha pelas noites carregado de perfumes.
Depois, há sempre um susto que sempre faz adiar o poema para o dia que há-de vir.