sexta-feira, 28 de março de 2008

MORRE LENTAMENTE



Morre lentamente
Quem não viaja
Quem não lê
Quem não ouve música
Quem destrói o seu amor-próprio
Quem não se deixa ajudar...

Morre lentamente
Quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão,
Quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de
emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite, uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos.


Morre lentamente
Quem passa os dias queixando-se
Da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de o iniciar,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples
acto de respirar...

Estejamos vivos, então!

Pablo NERUDA

quarta-feira, 26 de março de 2008

MORAL E MARMELEIRO

Era meu propósito não falar mais da coisa pública. Tem sabor a lodo, a bafio este pantanal da política e quanto mais se mexe na porcaria pior é o cheirete.
Queria dizer da poesia, da primavera, da natureza a acordar, da passarada a cantar
Mas há coisas que não podem passar sem cacete, ou, como diria o Bispo de Viseu, Alves Martins, o que queria a religião como o sal na comida, nem demais nem de menos, que a política precisava de moral e marmeleiro.

Político era o responsável na polis grega. O que não tinha responsabilidades era o idiota…
Como os tempos mudaram os conceitos…
O que aconteceu no Carolina Michaelis vem provar, mais uma vez, que o Sistema Educativo precisa de ser refundado. Não basta reformar que o mesmo é dizer remendar.
Acabe-se duma vez por todas com a tolaria do binómio escola-família.
A família biológica só pesa nas cabeças tontas e cegas. As Excepções confirmam a regra…
Família é “amar e ser amado” e é o espaço ESCOLA que tem que acolher e amparar o educando durante todo o dia porque os paizinhos saem de casa pelas 6/7 da manhã e chegam a casa pelas 8/9 da noite. Depois querem sopas e descanso. Querem é que os filhos não os chateiem…
Mas para que a ESCOLA seja o lugar de acolhimento e amparo ela tem que ter disponíveis psicólogos, assistentes sociais, sociólogos, bons seguranças e excelentes professores.

O Professor tem que ser escolhido segundo certas biotipologias….. Não pode ir parar à escola, como docente, quem foi excluído de todas as outras hipóteses profissionais.

O Professor é o construtor da sociedade futura, não pode ser tratado como um pária, como um servente, como um manga de alpaca.

E, sejamos simples e claros, a função do professor é a de incitar às aprendizagens específicas das suas disciplinas, disciplinas que não podem ser uma brincadeira de lana caprina, mas que devem girar em torno de um núcleo duro onde estão os ferramentais para a vida profissional: muita Matemática, muita Língua Portuguesa e três línguas estrangeiras… Ainda a História e a Geografia como disciplinas contextuantes que darão ao aprendente o indispensável conhecimento do tempo e do espaço…
E Ponto Final!
O resto são cantigas, é palhada para validar notações e médias de falso sucesso educativo.
A Educação cívica e a educação sexual devem ser transversais ocupando de conteúdos todas as disciplinas instrumentais.

O que se faz é para enganar o papalvo…
Isto de informática, por exemplo, é a esferográfica de antigamente…
E quem quiser entrar na engenharia de informática tem é que saber muita matemática…
A Escola não é um recreio, um tempo de dissipação, um espaço viciante e de abandalhamento.
O Estudante tem que ser, como se dizia nos anos sessenta, “um jovem trabalhador intelectual.” E se assim não for temos o que todos vimos no vídeo do Carolina Michaelis…Vídeo feito por um aluno na sala de aula e que anda a correr mundo…
Daria para rir se razões não houvesse para chorar!
“Entretanto a justiça anda a brincar ao apito dourado!”
Venha moral e marmeleiro, enquanto é tempo, porque mais logo pode ser tarde…

terça-feira, 25 de março de 2008

HOJE É O DIA DA BIA


Faz muito tempo que tu sabes brincar com a poesia!
Ela mora entre as flores do jardim em cada dia
Voa pelo horizonte e perde-se pendurada nas estrelas
Ou vai dormir na Lua, chova que não chova,onde sempre pinta uma aguarela
Mas é no sorriso quentinho da mamã
Nos silêncios, atentos e meigos, do papá
Nas birras exigentes da Ritinha fofa
Nas palavras de olhos abertos da Lucinda
Que manda e obriga com esmerada ternura
Na avó Lena e no avô Henrique de palavras e modos delicados
Com sabor a chupa-chupa de tanta doçura
Até no avô Zé que fala grosso e de dedo apontado
Que tu tropeças mais vezes na poesia pura
(A poesia é sentir o que vai por dentro do dentro das pessoas e das coisas)
E tu agora andas a descobrir as letras
A que, muito tecnicamente, o avô Zé chama grafemas,
E depois com as letras juntas vais arquitectar as melhores palavras
Que é do ventre das palavras que a poesia vem desabrochar
Quando tu, no papel, as semeares com amor e com carinho
Como ainda pintas as cores malucas com brilho e desatino!!!

segunda-feira, 24 de março de 2008

CREPUSCULAR

Ponho o ouvido sobre os silêncios
E abre-se um salmo milenar com sabores de andorinha
E de frutos... em manhã de adolescência.

Há um fim, um destino de sucesso
Neste começo
Desenhado no gesto, num sonho a palpitar
E sempre meditando entre o edredão e o altar

Mas seja qual seja a tentação
Não importa nem a cor da circunstância
Nem o sabor da razão
Verdade, é que sempre vem à mente
Aquele encontro ocasional e singular
Caindo o sol pela tarde, docemente,
Ali a o pé do mar.

domingo, 23 de março de 2008

A RESSURREIÇÂO

O poema nasce dentro da árvore
Como sempre a árvore cresce dentro do poema.
Mas hoje a chuva deu sangue à terra
e carinhos
Para que a terra se possa engravidar de frutos futuros
e de pericos maninhos


Todavia,
De tão cinzenta e pálida
Sepultou o poema entre penedos duros e terra árida
Paradoxalmente prenhes de audácias primaveris…

Logo, quando for amanhã, a terra vai ressuscitar as pautas do poema
Para que eu possa desatar o nó das palavras perdidas
Quando chove…

sábado, 22 de março de 2008

OUVER AS FLORES

Gosto de ouver flores, mas fora do altar.
E consigo ouve-las na distância do outro lado do mar!
Ouvo as flores no sorriso do perfume de hoje,
E nas memórias dos meus pampilos de infância
Que sabiam cobrir a milhã agreste e o azevém verdeal.
Ouvo-as na exótica fragrância
Das violetas brancas que bordejavam o carreiro
Por onde descia para o moinho de moleiro
(Violetas brancas… que nunca mais consegui ouver!)
Era um carreiro de encantos até ao moinho
Tocado pela água forte e límpida do ribeiro onde saltava a enguia
Quando, armado com folha de figueira, eu levantava a pedra fria.

Ouvo as flores de Macau com cheiro a mercado vermelho
O mercado de cobras, de baratas, de peixe e escaravelho.
Também ouvo a urze cor de rosa que cresce no monte maninho
E a aquela flor de nome doce, com sabor a luar
Que se chama rosmaninho.
Até ouvo a cuscuta, que não sendo uma flor,
Abraça, com ternura de sustento parasita, e modos de donzela,O tojo, enquanto é tenro, com flor de veludo e amarela.

Eu sei ouver as flores… sejam pálidas ou de berrante colorido
Aprendi a natureza pelos cinco sentidos
E agora, adulto e experimentado, confundo tudo o que distingo
Porque é nesta sinestesia que o poema se tece
E que a saudade cresce e aparece.

quinta-feira, 20 de março de 2008

FANTASIA À PROCURA DUM SER PAI

Uma ave selvagem sorria por entre um verde tranquilo
E nós caminhávamos num deserto azul que
Talvez
Fosse o mar Atlântico
Logo após o meio dia um sol imprevisto
Veio avisar-nos que uma criança morena
Suavemente morena

Poderia ser o nosso filho
Sinto que abrimos os abraços e que
Depois
Intranquilos e saudosos
Poisamos os olhos nos passados
Nunca ninguém
Em sítio algum
Nos perguntará pelo futuro
Como
Nunca ninguém nos apontará as estrelas que hão-de vir
Agora
À espera do perfume estival
Vamos depor as lembranças
Sobre as cerejas
Mas tudo eram vozes. E era noite.

quarta-feira, 19 de março de 2008

SOU O PAI DO MEU PAI

Hoje é dia maior para querer o pai que ficou nos meus cinco anos.
Assaltam-me dele todas as saudades.
Foi no ano de mil novecentos e quarenta e sete
Era uma noite cálida de Junho, aos vinte e seis anos,
E já não havia guerra,
Quando o tempo dele parou e ficou sobre terra.

Agora, eu sinto que sou pai do meu pai.
Ele já não joga mais comigo à cabra cega.
Nem me leva na cadeirinha da bicicleta
Nem lhe posso escrever, com linhas tortas, as adivinhas
Dos gatos, dos melros e das andorinhas
Que depois ele lia às gargalhadas
Sem que eu soubesse o porquê das piadas. Tudo no meu traço estava certo e seguro e sem nenhuma trapalhada
Tudo às voltas como pulava o gato e a andorinha voava na estrada.
Depois, para acertar razões e saber quem ganhava
Com ele fazia uma feroz bulha pelo chão da sala…
Mas deixa pai que eu hei de vencer
E tu só vais morrer quando eu morrer. Se eu morrer!

O SONHO

Hoje direi de ti um jasmim perpétuo
Um canavial misterioso
Um mosto fervente e ansioso.

Hoje tudo é esperança
Tudo é varandim de insegurança
Tudo verde floresta de medronho

E também um xadrez de harmonias no jardim
E ainda uma nuvem muito branca no azul do céu.

Logo faremos um festim
De beijos, de bocas, de dentadas de vampiro.
Depois será tempo de colher um sonho
E de acordar as estrelas ao som do teu suspiro.

ESTES GAJOS QUE NOS LIXAM!


Quanto eu gostava de cronicar sobre uma aleluia do fim da crise!
Que prazer era isso de tecer hossanas às personalidades que dizem que nos governam.
Que bom levantar um hino de muitos louvores às personalidades que destinam o nosso futuro e o futuro dos nos nossos vindouros.
Mas não posso. E não posso porque não sei mentir.
A aldrabice, a golpada, a exploração do indefeso transformou-se numa estratégia…
Aquele princípio da bíblia sagrada … é preciso amar o próximo está mesmo em prática!
Importante é o que está próximo, o que está por perto, o que lambe as botas…
Os que moram na distância, os que não chegam aos ouvidos, os que não choram….esses já não contam.
Estamos numa sociedade de castas: o “próximo” e os “outros”…
Poderemos, mesmo assim, dizer que nem todos os próximos são iguais.
É verdade. Os próximos têm as suas hierarquias. Há os próximos dos manjares e próximos das migalhas que sobram da mesa das majestades. Mas os que moram na distância nem cheiram as migalhas, nem sequer entendem as astúcias, as habilidades, as tramóias de quem manda e pode.
Agora querem renovar a frota dos jactos para as personalidades da governança…
Porque não viajam estes governantes de quinta ordem, no avião normal como fazia, por exemplo, François Miterrand?
Há que substituir a frota dos Falcon que já têm mais de 10 anos e já não é digna do nosso Cavaco ou do nosso Sócrates… E o erário público que pague, que o défice é para os pacóvios… Eles que aguentem…
Mas as aldrabices e golpadas caem-nos todos os dias na mesa do telejornal ou dos jornais que correm pelas rádios ou pelos “papeis pintados com tinta”.
É claro que há no meio dos lacaios quem seja sério e não se resigne a engolir a leitura da ordem dimanada dos comandantes. Honra e mérito para os desobedientes, para quem não mastiga a cenoura dos poderes.
Mas são tantas as razões de escândalo que dói. E dói muito
Dói na cabeça e no peito só de pensar nelas.
Os bancos, coitadinhos, estão descapitalizados. Pois! Mas pagam milhões aos seus administradores….
O barril do crude custa agora mais de 100 dólares. Pois! Mas o dólar vale agora cerca de 60 cêntimos do Euro.
Quando o euro valia 80 cêntimos do dólar o barril do crude já custava mais de trinta dólares.
Para indexar o aumento vale o dólar, mas não se olha à tremenda desvalorização do dólar…Vigaristas!
Vigaristas é pouco para quem nos indromina desta forma!
Mas há mais: a nossa economia sofre muito com a desvalorização do dólar…. Coitadinhos de nós…
Mas o que exportamos nós para os USA? E o que importamos? Afinal estamos a ganhar imenso… porque importamos muito mais do exportamos… Ou não será verdade?
É preciso chamar nomes, atirar pedras, montar barricadas, ter vergonha na cara e não nos deixarmos engolir pelas ladainhas da governança…
Pensemos.
E pense cada um com a sua cabeça sem se deixar convencer pelos profetas da desgraça…

segunda-feira, 10 de março de 2008

O POBRE DIABO!

O nosso Primeiro Ministro cometeu uma gafe, que veio divertir muita gente, quando chamou à ministra da Educação, Senhora Ministra da Avaliação.
O nosso Primeiro, sem ter disso intenção, disse uma grande verdade. Avaliar e educar podem ser sinónimos Ou quase sinónimos.

Avaliar é uma prática sistemática do conhecimento. É pela avaliação que eu decido o que devo ou não devo fixar das infindáveis informações que cada dia me são oferecidas por todos os modos, maneiras e feitios.
Desse incontável acervo de informações, pela avaliação, escolho aquilo de que tenho necessidade ou o que me interessa. ( não importa aqui a importância ou relevância do interesse: toda a gente, neste país da bola, sabe quem foi o Eusébio e poucos saberão quem foi Mozart ou Camões!)
Avaliar reporta-se ainda a um quadro axiológico, um quadro de valores de natureza ética, e, portanto, de natureza subjectiva, ou cultural que me levam sempre a fazer opções de aceitação ou recusa. Aqui estamos, de forma particular e mais pertinente, em face das religiões, mas ainda das tradições, dos hábitos e doutros muitos valores que a racionalidade e as emoções podem condicionar levando à aceitação ou à recusaOlhemos o que se passa nas três “verdadeiras” religiões abraãnicas (ojudaísmo, o catolicismo ou o islamismo) e logo damos conta das condicionantes a que o seu fundamentalismo obriga. A “verdade toda” faz de tudo o resto absoluta falsidade e mentira….
Eu não imagino o quadro em que a Senhora Ministra, ou o nosso Primeiro, vêm ancorar para impor aqueles formulários a que, só por demência, se pode chamar avaliação…. Mas não resisto a citar aqui a resposta dos chefe Índio a Benjamim Franklin que experimentou educar as crianças dos índios segundo um paradigma da sabedoria do iluminismo:

“Nós estamos convencidos que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração
Mas daqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa…
Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros…”
Educar é incitar para as eficiências face às necessidades e aos interesses… E os professores o que sabem disso?
E a Senhora Ministra o que sabe disso? E toda a 24 de Julho o que sabe de educação?
Enquanto não deitarem ao Tejo aquele fortim burocrático da 24 de Julho, que tudo manda e nada sabe, não refundaremos o Sistema Educativo… A ministra é um pobre diabo!!!

O OUTONO É FOLHARIDO

Não pinto os trapos que já foram, as folhas dos invernos,
As decadências dos perfeitos eternos.

Tenho uma ideia madura a crescer por entre as noites
E nas noites pinto tudo o que serei.

É verdade que nunca perdemos os passados
E é por isso que nunca me despego das memórias
Que nunca esqueço os sabores da infância
E os cheiros de então
Que quando era menino nunca houve perfumes



Mas quero é saber que terei um amanhã
Um amanhã tão simples como derradeiro
Para fazer contigo uma catedral
Talvez de pedra, talvez de vidro, talvez um simples canteiro
Mas de flores de cristal!

sexta-feira, 7 de março de 2008

CANTO A MULHER


Eu canto a mulher.
A mulher filha, a mulher amante.
Também a mulher mãe.
Não a minha que foi bravia e não tinha, da mulher,
nem o colo dos afectos,
nem o gesto das ternuras.

Canto a mulher na plenitude das diferenças.
Aquela mulher que faz a outra face de mim.


Eu não sei existir sem a mulher.
Sem a mulher que dormia comigo,
sem a mulher que já não quer dormir comigo,
sem a mulher que ainda não quer dormir comigo.

A mulher sabe as cores do mundo à transparência,
os sabores do mundo, ondulando, como seara do maduro trigo
as músicas das circunstâncias e das contingências.

A mulher sabe ver o que eu não vejo.
A mulher é o corpo que eu não sou.
A mulher é o ventre da vida nova
porque é dentro da mulher que nascem todos os futuros.

Todos os homens cabem dentro duma mulher.

Beijos para todas as mulheres. As bonitas. As mulheres.

quarta-feira, 5 de março de 2008

UM DIA AZUL





Sempre sonhei com uma madrugada
Em fim de tarde.
É pelas madrugadas que nascem os perfumes
Das flores antigas
E então os olhos contam histórias futuras que podem não acontecer
Porque já aconteceram.
Tu sabes que basta pensar para que tudo aconteça
Amanhã quero um dia da cor do teu sorriso.


Zedomar

QUEM SÃO OS PROFESSORES?

Correm por perto, porque hoje não há longes nem distância, acontecimentos vários que poderiam merecer o nosso comentário… São as eleições em Espanha, já no Domingo, são as Primárias nos EEUU, são os conflitos entre a Colômbia, a pátria da coca, e seus vizinhos, é a Ucrânia que não paga o calote do gás à Rússia…

Mas vamos ficar na turbulência interna, no rebuliço que arrasta professores como nunca se viu.
Eu, professor me confesso, para que as minhas ópticas ou as minhas leituras, possam merecer mais dúvidas e menos suspeições.
A celeuma está em torno da direcção das escolas e dum processo de avaliação de professores…
Do meu ponto de vista o Sistema Educativo está virusado, inquinado e apodrecido,
Não está sintonizado com a modernidade e não responde às necessidades primárias duma sociedade que seja capaz de pensar e de segurar o futuro…
O problema não é da avaliação, nem da gestão, nem da parceria dos pais nem do compromisso com as autarquias.
Isto não vai lá com remendos. É preciso ter coragem, e coragem política, para refundar o Sistema Educativo. A Escola e muitas ditas universidades transformaram-se numa paródia, num recreio para discentes e num labirinto de tarefas incongruentes e de incompetências formal e material para os docentes…
A maioria dos alunos sai das escolas quase analfabeta e perplexa porque não encontra, nem sabe encontrar caminhos para a vida, não tem ferramentas para abrir caminhos, está completamente alheia a responsabilidades de cidadania, e tem fraca ou nenhuma consciência social…

À força de se repetir que na escola o importante é o aluno, este tomou conta da escola, manda na escola, manda nos professores, insulta, molesta e agride conforme lhe apraz, na absoluta impunidade….
Ora não há educação sem sansão. E sansão é o prémio ou o castigo. Um e outro são o resultado duma avaliação. Ouviram professores?


Mas… depois do 25 de Abril abriu-se uma trincheira no Sistema Educativo.
Dum lado estão os professores do Ensino Superior, autónomos, intocáveis e incontestados e com salários nunca revelados; na outra banda da trincheira estão todos os outros, em plena igualdade.
Os professores do Ensino Superior tem os seus gabinetes, mandam comprar todos os livros de que necessitam e quando deixam a sua faculdade, vão, obviamente, para o tempo de lazer…
Na outra banda estão os “iguais” que vão desde o educador de infância até ao professor 12º ano.
Estes professores não têm gabinetes (o gabinete da Escola é a sua própria casa do professor), têm nas escolas uma biblioteca de faz de conta e daí estarem obrigados a comprar livros sem conta para que possam corresponder às exigências das aprendizagens…

Ora é nesta amalgama que se enquadram todos os docentes e todos no mesmo estatuto: há gente com doutoramentos, mestrados, licenciaturas, e outros que nunca leram um livro, que fazem educação visual e tecnológica com fantochadas, que são muito fixes porque a bola é o grande instrumento de trabalho…
Mas isto não é provocação!
É preciso gritar que o rei vai nu para ver se alguém toma tento e não deixa fazer deste país um campo da bola…
É que há professores no 1º ciclo que não sabem dividir nem multiplicar, e que não distinguem um verbo dum substantivo… Eles não têm culpa: É o Sistema que produz estas monstruosidades….

ZEDOMAR

segunda-feira, 3 de março de 2008

O VELHO DEMIURGO


Era imaterial, inerte, difuso, evanescente
Escreviam-no com barbas, de olhos indiferentes
Sempre mórbido, abstracto e cansado
E por isso lhe davam um retrato sempre sentado.
Mostravam-mo vezes sem conta quando eu era menino
E ameaçavam-me com ele para que eu tivesse tino
Quando era noite, tinha dele algum temor e muito receio...

Eu não entendia nada daqueles poderes
Nada dos mistérios que cercavam a minha confusão
Nada dum mundo onde morava um velho eterno
Infinito para além de toda a dimensão...
Poderoso, criador e senhor do universo.

E porque nada entendia
Obedecia

Obedecer não é uma cobardia
Obedecer até pode ser uma ousadia
Quando acreditamos, confiantes e seguros
No sustento da matéria
Na obra da natureza que vai da flor até ao fruto maduro
Sempre gostei de ver
De ver e resolver os casos que me cercam
O tempo que faz frio, faz vento, faz granizo ou faz calor

Zedomar

domingo, 2 de março de 2008

OS ENIGMAS


Sem palavras escreves todos os enigmas
E na distância mandas mensagens pelo sol
Para que a minha idade tenha todas as idades

Eu fico sempre à espera dessa alvorada
Que numa aragem menina e inocente

Traga um pássaro atrevido e cantador
Uma trovoada inclemente
Um temporal devastador

No fundo, isto do tempo não conta para nada
Porque sempre tudo vem no seu tempo
Seja a vindima, as cerejas de Maio, os anos de Setembro.

Zedomar

sábado, 1 de março de 2008

A ESCRITA DAS FADAS



Nunca escrevi para ninguém sem motivação técnica ou afectiva. Nunca soube escrever por escrever.
Sempre escrevi por compromisso, por obrigação, por dever cívico.
Quero utopiar o teu corpo, a tua sabedoria, o teu lenço azul, o teu perfume entre os mistérios.
Não quero um pilar, um andaime, um vime que prenda o teu quotidiano.
Deixa-te ser uma fada...

ZEDOMAR


Acho que tens toda a razão meu caro RN: a lucidez nem sempre me toma por companhia. Apaguei o lixo e deixei ficar aquele bocadinho para te dar razão na excelência do utopiar.
Zedomar