sábado, 13 de dezembro de 2008

NATAL DO HEREGE

O natal é um arrepio
Porque não há natal sem frio.
E isso de ir buscar muito de frio e neve
Para fazer natal é mais safado do que divino…

Ai como ainda sinto frio nos meus calções de cotim fino
E nas chancas de coiro branco
A caminho da novena dum menino
Que havia de nascer para salvar o mundo.

Minha mãe ficou santa pelos meus cinco anos de idade
E os santos são todos iguais, lá bem no fundo,
Sempre obrigam os outros ao martírio por certeza da sua santidade.
Dizem que o tal menino nasceu sem pai,
Ao bafo dum burro e duma vaca
Que assistiram ao parto duma mãe ainda virgem.
AI!
(Só burros e vacas seriam capazes de amparar tamanha absurdo!)
Esse menino, nascido na manjedoura, haveria de ser o barão dos barões
O rei dos reis, o salvador dos mundos onde tudo eram jardins e alegrias
Uma espécie de Bush mas sem balas, bombas e canhões
Para meter na sacrossanta ordem os incréus, os infiéis, e até os cavalheiros solenes dados à pedomania…
O menino ia ser um milagre abismal, dum poder total
Que faria desaparecer a fome, a peste e a guerra com um gesto, um olhar, uma oração…
Tudo muito mais que o peco 25 de Abril cujo programa,
No fio da espada,
Se ficava pela paz, pão, habitação, liberdade e educação…
Certo que os tropas de Abril eram gajos boçais
Com toda a força só na escopeta e na bomba,
Enquanto o menino era filho do deus único
Fecundado a jeito, por um anjo vestido de pomba…
Hoje, neste frio humano, tenho uma crença serena e celestial
Que me atira para o conforto da absoluta indiferença
Onde agarra, firme e tranquila, a âncora de ateu da minha crença radical.

Dezembro 2008

1 comentário:

Anónimo disse...

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