quarta-feira, 30 de abril de 2008

34 ANOS DEPOIS DA PRIMAVERA DE ABRIL

Fui meter combustível e tive dificuldade em conter uma série de impropérios. Claro que a pessoa da caixa não tinha, nem tem, qualquer culpa! Só isso me levou a ser comedido. Mas por dentro fiquei ruído, estragado, podre…
Isto não é uma gestão é um saque institucional que se faz, cada dia que passa, ao cidadão indefeso.
Porque será que os combustíveis do outro lado da fronteira custam menos 30 cêntimos por litro? E o leite é muito mais barato? E o pão também?
Este país, tal como navega não é viável…
O Dólar vale agora 60 cêntimos do Euro.O Barril de crude sobe, mas sobe em dólares, não sobe em euros…
Dá vontade de pegar na minha velha moca das praxes coimbrãs, ir por aí abaixo, entrar pelas portas da governança e escaqueirar aquela ganga toda. Já que não se pode fazer uma revolução porque as escopetas estão na mão dos tropas, e eles estão muito bem entretidos na mesa do poker e agarrados ao whisky… fazia, pelo menos, um reboliço para espantar a turba e quebrar esta modorra do português resignado com tudo, menos com as lástimas do Benfica, e com os preparativos do 13 de Maio na Cova da Iria…
Vivemos num país onde já não há classes sociais diferenciadas, mas castas!
Os senhores da política, arrimados às tropas e aos chefes dos aparelhos judiciários estão no topo e estão-se nas tintas para custos de bens essenciais. Têm carros do Estado, combustíveis pagos pelo estado, e se calhar ignoram a cartelização das gasolineiras que combinam preços e aumentam o que querem e quando querem…
Os capitalistas também deixaram de ser classe para ser casta. São donos e senhores intocáveis na sua grandeza: olhem só para os bancos!!!
Vivemos num país onde se estratificaram privilégios e obrigações.
Os proletários, os trabalhadores, não se enquadram mais na classe operária, mas estão antes na casta dos párias, sem direitos, sem recursos que possam garantir a saúde, a educação, a habitação e a alimentação…
Que se pode fazer hoje com 500 ou 600 euros por mês?
Haverá cultura que esteja acessível para quem consegue sobreviver com estes salários?
Os jovens gozam dum idealismo, têm um sentido de justiça não corroído por comodismos e, na sua irreverência, olham a política e os políticos com desprezo…..
Não há que espantar, Senhor Presidente da República, há que compreender…
E mande! Que o senhor pode mandar!
Acabe-se com a classe política que é, genericamente, um coio de inúteis e de crápulas.
Reduzam o exercício político, a qualquer nível, a dois mandatos e mandem essa gente trabalhar….
Que a maioria nunca fez nada, nem sabe fazer outra coisa que não seja governar….
Ora, como pode governar quem não sabe fazer nada?
Esta não é a verdade nua e crua?
Quem é capaz de demonstrar o contrário?

domingo, 27 de abril de 2008

PARA ORIENTE

Uma gaivota, estranha de tão preta e branca,
Poisou na minha janela e pediu-me o recado...
Eu falei com ela
Olhei-a como se olhasse uma caravela
Daquelas de mistério
Que navegam sem destino e sem pecado
E que não buscavam, como outrora, o cravinho ou a canela...

A minha gaivota abriu o bico amarelo
E riu um riso sério
Como quem adivinha um adultério...

Depois cantou meu fado

Então eu sucumbi
E escrevi
Um nome mágico
Que a gaivota levou no bico de ouro, para Oriente
Até ao país do Sol Nascente...

PASSEIO NOCTURNO


Amanhã, conta-me uma história de sândalo,
ou de ave,
ou de nuvem
Que eu dar-te-ei flores ao pequeno almoço
E um raio de luar por trancelim

Amanhã, deixa-me brincar nos seixos da praia
Ou na erva do prado
Ou entre as mamas do teu seio
Que eu dou-te um Jeová menino e milagreiro
Numa Babel de encantamentos.

Amanhã, joga comigo o medo do escuro
Ou plantemos a proa dum navio
Ou dá-me uma montanha verde
Que eu descubro o teu rouxinol no azevinho
E um junquilho que seja o teu retrato

Amanhã vamos descobrir os vidoeiros
Ou os grilos nocturnos
Ou as esperanças maduras
Que eu te vou oferecer-te um spa de mosto quente
E um braço meu por travesseiro

Amanhã dá-me uma cereja de chocolate
Ou um suspiro
Ou um sorriso ingénuo
Que eu invento um rosmaninho com cheirinho de alcova
E uma confusão dentro de ti para acordares.

sábado, 26 de abril de 2008

OS 25 DEABRIL

Uma coisa é o ser, outra o parecer. Não sei se é mais importante o que parece ou o que é. Na verdade, raramente chegamos ao conhecimento fundo, à definição rigorosa e certa, ao preciso saber do que foi ou do que é. O real é o aparente. O que fica para além do aparente cai no imaginário e tanto pode ser verdadeiro como falso.
Contornar o aparente, ultrapassar as evidências e subir até à decifração primorosa é obra: impõe cautelas, exige competências, obriga a distanciamentos e à busca da lucidez tranquila. É obra da História, é a missão do historiador.
Em Portugal tem-se medo da História. Não se faz História a quente. Todos conhecem, de cor, as teorias da História desde Tito Lívio e Fernão Lopes até Marx, Spengler e Toynbee . As teorias, as leis e as artes de fazer História. Mas a História ao vivo, tocando nas fontes e ouvindo os sujeitos activos e passivos, espiolhando os factos e esmiuçando os dados, confrontando testemunhos e réplicas, e depois ratificando tudo no tempero justo para o retrato final, não faz o gosto do investigador nacional. Espera-se pelos papeis já pardos do tempo .Tem-se o prazer do alfarrábio. Prefere-se a memória carcomida. Mais tarde vai-se aos cartórios, põe-se um ar grave e circunspecto, farejam-se “podres escrituras”, trabalham-se edições críticas e proclamam-se apócrifos. O nosso historiador gosta de exumar cadáveres. Ou se calhar não gosta. E não faz doutra forma porque não lho permitem: há que proteger a boa memória e a sã reputação dos vivos. Há o princípio-lei dos trinta anos que muitos historiadores repudiam mas que outros defendem. A história far-se-á depois. Quando já tiver menos importância e muita poeira em cima dos factos. Mas no depois pode haver falsificações e embustes. E muitas provas destruidas, e registos apagados, e até reescritas de conveniência. Fica de bom, nessa altura, o fogo da polémica, quando estala . A polémica, se vai ao osso e faz faísca, também faz luz. E só nessas alturas sabemos, com decoro, a nudez dos factos, a clara certidão da verdade.
O 25 de Abril foi muito bom. Nem é questão que se pense discutir. Foi um acontecimento enorme e com peso histórico monumental. Não é uma data, é uma era. Mas uma coisa são os factos, na sua aparência e nas suas consequências, outra coisa a natureza dos factos. Geralmente não há coincidência, entre o engendramento dos factos e dimensão manifestada. Como não há decalque entre as motivações e alcance dos factos. Como não há relação directa entre as causas e os efeitos. Como o modo de agenciar fortuna tem pouco a ver o volume da herança.
Não custa, antes é saboroso porque, quase sempre, laudatório, fazer análises sobre os consequentes do 25 de Abril. São coisas que passam pela nossa pele, que deram absoluta tranquilidade ao nosso espírito e à nossa condição de livres pensadores.
Vale sempre a pena não esquecer que havia medo de pensar, e temores, e pesadelos que perturbavam o sono e proibiam o sonho. Ainda que não restasse mais nada, estas são razões que bondam para tecer epopeias ao 25 de Abril .
Da génese do 25 de Abril não há fartura de documentos dados à estampa. Documentos que esclareçam sobre a natureza do movimento que se converteu na acção militar que depôs o regime. Em “Alvorada em Abril,” do próprio Otelo, é uma narrativa de ritmo trepidante mas carente de rigor. Está em causa a dupla natureza do autor: primeiro o ser agente directo e parte interessada no curso da narração, e depois ser Otelo um espírito fantasista, capaz de confundir, ainda que sem maldades, o real e o imaginário . O trabalho de Avelino Rodrigues e outro, cujo título creio ser “Abril nos Quarteis de Novembro” é um trabalho com mérito jornalístico, mas não esclarecedor das dúvidas sobre causas e motivações do 25 de Abril. Os textos produzidos por autores estrangeiros, lamentavelmente por autores estrangeiros, continuam a não dar respostas suficientes para tornar claro o “ânimus” das Forças Armadas no 25 de Abril.
A farta literatura de análise social, obra de sociólogos, orienta-se para as consequências sociais da implantação da democracia ,porque é esse o seu escopo preferencial .
Julgamos que José Freire Antunes tem preparados trabalhos que farão luz sobre o passado do 25 de Abril e que desses trabalhos poderão resultar esclarecidos os papeis de forças políticas e de personalidades civis e militares muito protagonistas na colheita de louros, mas de posicionamentos dúbios ou inconsistentes na fase anterior à noite da libertação .
OS 25 DE ABRIL

GOLPE OU REVOLUÇÃO ?

O painel de personalidades militares que foi apresentado ao País na noite de 25 de Abril de 1974 não era garantia de coisa nenhuma. De coisa nenhuma para além da certeza da queda de Marcelo Caetano. Certeza de mudança estava só no Governo. Spínola, Costa Gomes, Pinheiro de Azevedo, Rosa Coutinho, Jaime Silvério Marques e Galvão de Melo compunham um fresco velho e algo sinistro. Tinham todos um ar bélico, uma postura heróica e medonha. Eram eles a Junta de Salvação Nacional, um nome com sabor a autoritarismo e a esconder duvidosos desígnios. A declaração que fizeram foi baça e sucinta, mas foram claros a declarar “o respeito pelos compromissos decorrentes dos tratados em vigor.”

O mal estar no seio das Forças Armadas era um facto e tinha uma causa, um pretexto, e um livro.
O livro de Spínola “Portugal e o Futuro” desenvolvia a tese da Pátria transnacional conectando a componente europeia e as componentes africanas num sistema federalista que terminava com a ideia de mãe-pátria, mas pressuponha a fratria familiar para um Portugal federalista ou federalizado. Transportava, apesar do irrealismo histórico, uma mensagem nova, ou inovada, que rompia com dogmas de “Angola é Nossa,” “Pátria não se discute, defende-se”e outras lorpices em que foi pródigo o Estado Novo. Estava ali uma alternativa vestida da autoridade de quem tinha lutado nas batalhas, de quem tinha condecorações e louvores pelos saberes e pelos fazeres militares e vinha agora sustentar, com toda a autoridade do saber de “experiência feito,” que a questão colonial não comportava uma solução militar.
O Livro foi uma bóia, um elemento catalisador e agregador de descontentamentos da mais diversa natureza. Emparceiraram com Spínola a Igreja progressista de D. António Ferreira Gomes, os políticos liberais do grupo de Sá Carneiro, os trutas da economia que já não suportavam a drenagem permanente de dinheiros para as Áfricas e se estavam nas tintas para as glórias patrióticas, e ainda os militares que não integravam a brigada do reumático.
Entretanto o PS, acabadinho de se fundar na Alemanha, continuava com a expressão dos vinte fundadores ou pouco mais, e berrava contra as estruturas do capitalismo e os interesses do imperialismo. Vivia de fantasias e de esperanças sob as suspeitosas bênçãos da social democracia. Soares é, aliás, um inveterado paisano, e nunca seria capaz de dar importância maior a obra de militar.
O PCP sonhava (ainda sonha?) com a insurreição popular, acusava Spínola, pela voz do próprio Cunhal, de fascista dissidente, e vivia apavorado (e com razão!) com a psicose do efeito Pinochet.
O pretexto era de natureza corporativa, mexia com valores, tocava a dignidade das Forças Armadas e complicava as promoções militares.
A guerra colonial veio exigir um esforço acrescentado em homens e cabedais. Os militares do quadro não chegavam para as encomendas e era necessário o recurso a milicianos. Foram estes, em boa verdade, que aguentaram a guerra de picadas e de trilhos no quotidiano operacional de patrulhamento, de emboscadas e de abastecimento, operações que na quadrícula se faziam ao nível de pelotão. Os militares do quadro só apareciam ao nível de capitão para comandar companhias cujo empenhamento operacional era raro. Mesmo assim, as necessidades excediam a oferta, e o regime procurava atrair os alferes milicianos à frequência de cursos militares para continuação nas fileiras, em condições tentadoras de progressão na carreira. Isto contrariava a ética militar e descontentava todos os que vinham da academia que viam atrasar o seu acesso e o seu sucesso. Este entupimento das carreiras gerava natural e generalizado descontentamento, e irmanava os militares do quadro num movimento de auto-protecção contra os intrusos e os postiços milicianos. Movimento legítimo e fortemente agregador.
A causa estava na guerra. Embora o militar seja um profissional da guerra, o militar estava cansado do beco sem saída, das comissões sucessivas, da transumância periódica, do fora e dentro da família, do marcar passo da insegurança, do camuflado como farda, de dormir na tarimba com a escopeta ao lado, da caldeirada do rancho, da falta de mulheres (bonitas ou feias, tanto faz), da quissonde, da marabunta, da salalé, das cobras na caserna, da ração de combate, do gorgulho no feijão e no arroz, do inimigo que flagelava dia sim dia não, e que nunca se mostrava, de todas as porcarias e chatices em defesa de uma terra que não lhe pertencia. Embora o militar seja um profissional da guerra e a guerra seja tudo isto, sabe muito melhor o ar condicionado, o desfile com cagança, o bridge, o bom whisky, a farda de gala ornada de amarelos areados pelo ordenança.
Em 1974 o militar podia armar ao reviralho, virar as fisgas ao contrário, baldear o governo e regressar ao quente e cómodo agasalho do soberbo quartel.
Em 1974 o militar podia mudar o regime porque os militares são sempre, pela força dos seus argumentos bélicos, o sustentáculo dos regimes.
E assim se fez. O que veio depois, as dinâmicas sociais que desenvolveram PREC´s e liquidaram PREC´s, a força da Democracia que foi cavando alicerces, a vida diurna da liberdade, podem não ter nada a ver com as motivações que sepultaram um regime, já apodrecido, na alvorada de 25 de Abril de 74.
Mas é a História que deve explicar como tudo aconteceu.
Com urgências.
Para que não haja fantasia ou suspeição nos livros que hão-de vir ensinar aos vindouros tantas mentiras, como as que se fazem hoje para negar o holocausto!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

SERÁ PRIMAVERA?

A música sobe pelo corpo do violino
E passa junto ao meu ponto de encontro com amigas.
Depois, contorce o tom menor, vira-se em hino,
E vai desatar-se a um prado de enigmas.
Aí, deixa cair a tarde e faz um laço de violetas e de amoras
Para que o sagrado ofertório seja a horas
De derramar perfume e alegrias.
Há que embalar o enlace que nocturno há-de ser.
Não imagino o que pode acontecer,
Mas que anda e ciranda em torno um roseiral de magias,
Aromas dum acontecer imprevisto, eufórico e contente
Isso todos pensam e ninguém desmente...

Só uma certeza resta, segura e em festa:
É que no centro de tudo poisa uma andorinha…

PÉROLA DO SABOR

A pérola é um mistério que só a ostra pode explicar.
Mas porque a ostra não fala também não explica.
A ostra simplesmente fabrica a pérola.
E a pérola é pérola.
É uma gota preciosa mas muito tão sólida e fria mais muito que arrepia.
Hoje lembro-me de ti e da pérola.
Porque tu és absolutamente inexplicável.
Depois, és preciosa mais ainda muito que um pingo de pérola.
E também sólida.
E ainda fria.
E pérola.
Apetecem-me pérolas.
Importa que as pérolas não sejam do Mar Vermelho.
Até nem sei detalhes sobre o mar vermelho.
Deve ser um mar torto e muito tão aberrante como relva cor de azul...
Mas quero pérolas.
Melhor: basta-me uma pérola, mas colhida nas margens do Sabor.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A DANÇA do PSD

O PSD anda eufórico. Eufórico e encantado. Não entendemos a euforia e muito menos o encantamento.
As hostes do PSD tiraram da cartola o seu ponta de lança, e será ele a comandar os sucessos dos próximos embates eleitorais…
Francamente não lhe divisamos nem competências nem arte para seduzir um eleitorado. Os outros candidatos seguram-lhe o pálio e o Alberto João pode comparecer para tocar o bombo da festança eleitoral no PSD.
É verdade que umas eleições nunca se ganham e sempre se perdem…
Mas aquela senhora é um andrógino, nem mulher nem homem, e está muito bem para meter medo às criancinhas, ou para ser um referente de ameaças quando elas não querem comer a sopa.
O trabalho político de Manuela Ferreira Leite tem a marca dos silêncios. Levou à praxis política o princípio popular, tão falso quanto cobarde, de que “o calado é o melhor”.
Aquela feiíssima senhora já foi ministra da Educação e criou conflitos mais agudos do que tem criado esta Milú de agora. Todavia, com esta fundamental diferença: criou conflitos e não mudou coisa nenhuma. A “Milú” sempre vai mudando… e a mudança é, em si mesma, uma prática virtuosa…
A crispação criada e a perda do respeito, perda de autoridade e de apreço foi tal que eu recordo uma provocação violentíssima dos estudantes de Coimbra que plantaram uma vaca turina junto à estátua de D. Dinis com um dístico esclarecedor; “esta vaca não dá leite”. A sua passagem pelo Ministério da Educação não mostrou nem competência nem bom senso. Mostrou ser uma pessoa bisonha, incapaz do diálogo e barricada nos mortais silêncios políticos.
Não se pede a um Ministro, muito menos a um primeiro ministro, que seja uma rela, um papagaio inconsequente, um orelhudo barato e ameaçador. Mas lidar com o cidadão exige descontracção, sorriso fácil, gesto espontâneo, em suma, capacidade de comunicação.
Um primeiro ministro não é dono dos cidadãos. Pelo contrário, foram os cidadãos quem lhe conferiu um mandato para que mande…e, se possível, mande bem. E é por isso que a constituição escreve, e escreve muito bem, que “a soberania está no povo”,
Mas esta descoberta messiânica do PSD também foi ministra das Finanças e calcou todos os contribuintes com pesos de impostos e ameaças fiscais: exactamente como agora acontece. Só que com uma abismal diferença: a senhora Ferreira Leite agravou o défice apesar das farroncas, enquanto agora, quanto parece e se diz das estatísticas dimanadas da EU, o défice veio mesmo por aí abaixo.
Verdade que ninguém está hoje melhor que outrora, verdade que pagamos muito mais por todos os bens de consumo corrente, verdade que o fim de mês nunca mais chega e que os euros escorregam do bolso como esta chuva de Abril corre pelas ruas. Dizem que a crise é global…E parece ser verdade desde que o Bush foi brincar às guerras no Iraque
Mas a Ferreira Leite, essa é que não!
É feia demais para ser mulher. Feia e seca: muito mais feia e seca do que foi a senhora Margeret Tatcher que os Britânicos apodaram de Dama de Ferro.
Um primeiro ministro deveria ter maneiras, deveria conhecer o país e sentir a transpiração de quem trabalha, coisa que ninguém faz…
Andam pelas feiras a engrolar o Zé Pagode para pescar os votos e depois é fruir o conforto das poltronas ou as lérias na televisão…
Mas, Ferreira Leite nem para a televisão serve: tem voz de cana rachada… E depois nunca foi a uma feira. Só conhece o shopping que é fidalgo e tem ar condicionado…

sábado, 19 de abril de 2008

A BOA EDUCAÇÃO: REPRODUZIR OU PRODUZIR?

Educar é comprometer na vanguarda.
E para estar na vanguarda é preciso ser livre, novo e marginal.

O menino bem educado é dois meninos.
Um é menino bem educado porque come a sopa toda, nunca suja o bibe, trata as pessoas por você, e nem sequer chucha no dedo porque parece mal. É um menino muito direitinho e precoce. Tão precoce que já sabe muitas coisas que estão nos livros. E de tão precoce, responde com rigoroso propósito às perguntas das visitas depois de recitar “As Minhas Asas Brancas”.
Este é um menino meticulosamente obediente. Obediente e reconhecido. Muito tão reconhecido que quando quer um gelado pede por favor e logo sabe dizer muito e muito obrigado mesmo quando o gelado não pode ser.
Este menino bem educado é absolutamente exemplar. Só diz palavras de excelente cerimónia e tem gestos angelicamente brandos, que aprendeu na catequese.
Nunca abre as gavetas da mamã. Nunca ataca o açúcar, nem vai às bolachas, nem fana chocolates. Nunca mete o dedo no nariz e pede sempre licença para fazer xixi ou para fazer cocó. Porém, quando não é assistido, faz nas calças, coitadinho! O menino bem educado é muito respeitoso e nunca espreita o papá na casa de banho.
O menino bem educado nunca faz birras; nem sequer perrices. E vai dormir a horas certas depois do sinal da cruz, que o menino de boa educação é sempre muito devoto...O menino bem educado não tem curiosidades: não espreita os cães e os gatos nos rituais da reprodução, nem olha as mamas da empregada para ver como é, nem duvida do Pai Natal e da estória da cegonha que traz os bebés de Paris.
ESte menino bem educado é Tótó. Nunca sai à rua para não constipar. Depois, a rua é um espaço perigoso e muito capaz de produzir graves contaminações físicas e psicológicas. E graves traumas morais. Que o menino Tótó é muito bem educado, e por isso muito indefeso na sua inocência perante os bárbaros que campeiam nas ruas.
Quando for grande o Tótó vai ser sempre conforme for a vontade da mamã.E quando já não tiver mamã vai perder-se nas confusões da vida...
O Outro menino é bem educado ao contrário.
Pergunta sempre como e porquê. E come a comida porque é de comer, sem necessidade saber o que está a comer para gostar ou não gostar.
Está-se nas tintas para as diferenças e trata toda a gente por igual. Até brinca com o avô como se avô fosse um puto da rua. É, aliás, também na rua que ele cresce e faz a aprendizagem de todos os dias; mas nunca faz arruaças. O menino bem educado precisa de compreender o que vai pelo mundo e sempre deve começar pelas contiguidades. É assim que se aprende a amar o próximo... porque o próximo é o que estáperto de nós, é quem vive e convive connosco. Na rua não aprende ladainhas mas aprende palavrões que são palavras muito grandes e de enorme importância para a boa comunicação entre as pessoas.Conhece-lhes o sentido e até a etimologia mas não as usa sem ter o perfeito sentido das conveniências...
Este menino, embora pequeno, não deixa que o apertem. E quando isso acontece defende-se como pode, mas nunca chama pela mamã, nem vai fazer queixinhas a ninguém. Também não gosta que andem a apertar os outros sem porquê. E quando assim acontece este menino dá por paus e por pedras. E farta-se de berrar que não gosta de injustiças.
Tem uma noção muito peculiar das conveniências e por isso chama às coisas pelos nomes inteiros, para gáudio de uns e escândalo de outros. Todavia, parece certo, não querer nunca enganar ninguém .
Este bem educado menino não gosta de pedir coisa nenhuma a ninguém. Mas quando sabe que tem direitos não os larga nem por nada; e, se preciso for, dá caneladas e ferra o dente miúdo sem nenhuma cerimónia .
Este menino vasculha tudo. Vai às gavetas, remexe os bolsos, espreita nas portas, quer saber como tudo cresce , como as coisas andam, como se faz a vida. Às vezes leva bufardos e safanões. E porque é impertinente de tão ávido de saberes, há muita gente, bem posta e circunstante, que não gosta do menino.
Como todos os meninos, também este deve ter tido pai. E até padrinhos. Entre os putos, todavia, não é fácil descobrir-lhe o afilhamento.
A idade tenra não o impede de entrar em compita com outros putos, também pequenos, ou mesmo com os mais velhos. E quando acontece de ganhar fica naturalmente vaidoso. Que a vaidade é um sentimento muito nobre e muito próprio de meninos bem educados.
Então, que depois dos anos muitos, fique sempre puto e reguila para continuar a querer saber mais muito e sempre o porquê de tudo. E é assim que este menino é bem educado.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

OS FUNDOS E A FRUTA

Há coisas que nem um cristão pode entender para poder aceitar.
Muito menos o poderá compreender e aceitar uma pessoa radicalmente racional no seio duma sociedade onde a igualdade de direitos e deveres é preceito constitucional.
Mas sejamos explícitos: andamos a receber fundos dos parceiros europeus, para corrigir o nosso atraso estrutural há exactamente 22 anos.
Com esses fundos fizeram-se auto-estradas, pontes, a reconversão da parte oriental da capital para abrigar a Expo-98, mais o CCB, a monumental basílica de Fátima, outros santuários e ainda muitos estádios para o jogo da pedibola, como gostava de dizer mestre Aquilino, que também não morria de amores pela capital nem era amante de crenças, ou não fosse ele filho de padre, nado e criado numa esconsa aldeia de Sernancelhe de nome Carregal da Tabosa.
Mas muito, muito dinheiro foi investido, investido ou malbaratado na formação/ educação.
Quanto à educação estamos falados e tudo está à vista de todos: temos piores professores, piores alunos, piores estruturas escolares, piores níveis cívicos, pior trato e respeito. Temos mais receios, menor segurança, mais temores, mais abusos, maior permissividade, mais agressão, menos tolerância, menor aceitação das diferenças e mais marginalidade primária.
Mas eu não encontro vertente diferenciada nem sei distinguir detalhes neste binómio que é a educação/formação….
Hoje, ainda hoje, se invoca a necessidade da formação e de mais formação para que possamos ser mais competitivos no contexto europeu.
A formação que se faz em Portugal é de pacotilha, é uma mascarada, não dá mais eficiência aos desempenhos, não melhora a produtividade das fábricas. É uma Chuchadeira (eu gostava mais de escrever xuxadeira….) para alimentar formadores inúteis e incompetentes e para mascarar um desemprego galopante…. É óbvio que em tudo isto há excepções, excepções que servem para confirmar a regra…
Não resisto a contar um episódio típico e paradigmático passado comigo e com outro avaliador de eficácias de formação…
Foi em Vila Pouca de Aguiar, uma vila entre Vila Real e Chaves. Eram os idos de 90. Procurávamos, obviamente, encontrar a adequação entre a oferta de formação e o exercício profissional e fomos perguntando aos diversos formandos qual a sua profissão.
Já um pouco perplexos com a diversidade de ofícios e não sabendo como o programa poderia melhorar os adequados desempenhos, fomos surpreendidos com uma verdade monumental, de franqueza e espontaneidade transmontanas. Um formando, perguntado sobre a sua profissão, disse, com toda a leveza e sem contemporizar, que a profissão dele era “formando”…
Formando? Mas como? E ele explicou: sim já tinha feito mais de meia dúzia de cursos de formação e queria continuar a peregrinação para receber o preço e os benefícios que a formação…
Mas com que objectivos? - Nem sabia nem queria saber. Queria era aquela borga de receber o patacão dos transportes e das presenças…
Mas tudo isto é muito pouco, mesmo muito poucochinho, com o que se consegue com as competências adquiridas nas manhas e artimanhas da militância partidária, onde se aprende tudo de gestão e donde se pode saltar para administrador, por exemplo, da Mota-Engil…
Será que aqui não há fruta para os justos da suprema justiça investigar?
Será que tudo isto obriga os papalvos ao silêncio?
Valha-me S. Pancrácio, ou S. Satanás… para ver se eu consigo entender uma ponta deste enredo…..