segunda-feira, 14 de abril de 2008

PARA O AMIGO ENCARCERADO

Escavo, escravo, escrevo. Escrevo como quem berra, como quem grita, como quem suspira um desalentado ai...
Não sei porquê, mas sei para quem escrevo.
Tu nunca soubeste, tu não sabias, nem tão pouco imaginavas, que nos fazes muita falta.
Estávamos habituados a ver-te, nesta distância periférica, a dizer as verdades de forma tão suave e incisiva como se tudo fosse um prado verde.
Estávamos habituados a ouvir os teus argumentos como se tudo se resolvesse entre a flor e o fruto…
Estávamos habituados à tua atitude menina como se a inocência fosse a alma da política.
Homens vieram e levaram-te.
E nós ficamos, nesta distância sadia de ver a noite à luz do luar, definitivamente perplexos.
Como se o nosso ió-ió de brincadeira se partisse. Como se o mar, ali em frente, fosse um agreste canavial.
Como se todas as flores chorassem uma lágrima.
Olha, apetece-me dizer-te que tenho um ombro para ti.

O ombro é sempre a parte mais nobre da pessoa.
Pelo ombro nunca se cobra. No ombro está a amizade feita amor ou o amor feito amizade.
Eu sei que tudo isto é imaginação. Mas é da imaginação que vivemos.
O real anda sujo, peco, serôdio, ruim e guerreiro.
Deixa que a imaginação faça os nossos futuros.
Com abraços.

Havemos de dar os abraços que nunca demos.
Tenho uma história feita de aventuras e de confianças.
Eu sei que vamos ter uma festa e que tu me vais convidar.
Fica com o meu ombro todos os dias....

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