quinta-feira, 17 de abril de 2008

OS FUNDOS E A FRUTA

Há coisas que nem um cristão pode entender para poder aceitar.
Muito menos o poderá compreender e aceitar uma pessoa radicalmente racional no seio duma sociedade onde a igualdade de direitos e deveres é preceito constitucional.
Mas sejamos explícitos: andamos a receber fundos dos parceiros europeus, para corrigir o nosso atraso estrutural há exactamente 22 anos.
Com esses fundos fizeram-se auto-estradas, pontes, a reconversão da parte oriental da capital para abrigar a Expo-98, mais o CCB, a monumental basílica de Fátima, outros santuários e ainda muitos estádios para o jogo da pedibola, como gostava de dizer mestre Aquilino, que também não morria de amores pela capital nem era amante de crenças, ou não fosse ele filho de padre, nado e criado numa esconsa aldeia de Sernancelhe de nome Carregal da Tabosa.
Mas muito, muito dinheiro foi investido, investido ou malbaratado na formação/ educação.
Quanto à educação estamos falados e tudo está à vista de todos: temos piores professores, piores alunos, piores estruturas escolares, piores níveis cívicos, pior trato e respeito. Temos mais receios, menor segurança, mais temores, mais abusos, maior permissividade, mais agressão, menos tolerância, menor aceitação das diferenças e mais marginalidade primária.
Mas eu não encontro vertente diferenciada nem sei distinguir detalhes neste binómio que é a educação/formação….
Hoje, ainda hoje, se invoca a necessidade da formação e de mais formação para que possamos ser mais competitivos no contexto europeu.
A formação que se faz em Portugal é de pacotilha, é uma mascarada, não dá mais eficiência aos desempenhos, não melhora a produtividade das fábricas. É uma Chuchadeira (eu gostava mais de escrever xuxadeira….) para alimentar formadores inúteis e incompetentes e para mascarar um desemprego galopante…. É óbvio que em tudo isto há excepções, excepções que servem para confirmar a regra…
Não resisto a contar um episódio típico e paradigmático passado comigo e com outro avaliador de eficácias de formação…
Foi em Vila Pouca de Aguiar, uma vila entre Vila Real e Chaves. Eram os idos de 90. Procurávamos, obviamente, encontrar a adequação entre a oferta de formação e o exercício profissional e fomos perguntando aos diversos formandos qual a sua profissão.
Já um pouco perplexos com a diversidade de ofícios e não sabendo como o programa poderia melhorar os adequados desempenhos, fomos surpreendidos com uma verdade monumental, de franqueza e espontaneidade transmontanas. Um formando, perguntado sobre a sua profissão, disse, com toda a leveza e sem contemporizar, que a profissão dele era “formando”…
Formando? Mas como? E ele explicou: sim já tinha feito mais de meia dúzia de cursos de formação e queria continuar a peregrinação para receber o preço e os benefícios que a formação…
Mas com que objectivos? - Nem sabia nem queria saber. Queria era aquela borga de receber o patacão dos transportes e das presenças…
Mas tudo isto é muito pouco, mesmo muito poucochinho, com o que se consegue com as competências adquiridas nas manhas e artimanhas da militância partidária, onde se aprende tudo de gestão e donde se pode saltar para administrador, por exemplo, da Mota-Engil…
Será que aqui não há fruta para os justos da suprema justiça investigar?
Será que tudo isto obriga os papalvos ao silêncio?
Valha-me S. Pancrácio, ou S. Satanás… para ver se eu consigo entender uma ponta deste enredo…..

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