quarta-feira, 2 de abril de 2008

BONITO E BOM


Consegui libertar-me do enredo das políticas e das intrigas com que a informação que dorme por Lisboa nos vai ferindo a serenidade e perturbando a lucidez.
Fugi para o Portugal profundo e fui parar a Bragança. Não levei comigo ferramentas para me vincular à tentação da notícia, e ostensivamente procurei desligar-me do mundo que mora para além do horizonte visual onde a neve da Sanábria brilhava com o sol.
E que bom que foi!


Bragança está um jardim. Pulam os narcisos e as tulipas nas varandas e nos quintais e todas as árvores anunciam uma Primavera saudável que chega depois dum frio gélido que temperou as carnes, as árvores e a terra para um renascimento vigoroso.


É verdade que não suportei a secura fria do Inverno e só lá fui agora às portas da Primavera: um bocadinho de egoísmo comum a todo o urbano que gosta de colher o que é doce, o agradável, o pitoresco, mas não sabe e não quer aguentar as agruras de quem vela e de quem zela por manter o bom que a natural natureza oferece em tempo próprio e no lugar certo.
É claro que, estando por Bragança, fui, religiosamente, à sacramental posta como só o Abel em Gimonde sabe preparar. Aquilo não é um restaurante; é uma catedral gastronómica. Eles, pai e filho, tem memória de elefante e logo quiseram saber como estava Viana. Sabe bem ser reconhecido na distância de mais de três centenas de kilómetros. E tem lá um bagaço divinal que suaviza os excessos da posta de inimaginável sabor e dimensão, e com o Sabor a marulhar ali tão perto….
Falando de Sabor, não há sabor comparável ao azeite (não sei se é azeite se é licor) que uma amiga do peito me franqueia. Ainda fico lambuzado só de pensar os grelos e as batatas de Bragança: que delícia!
Peregrinamos, depois até França, a França de Bragança, onde foram abandonados muitos emigrantes que, pela mão do passante vigarista, queriam galgar fronteiras para fugir à penúria do país pobre porque analfabeto
Minha senhora aqui é França?
É sim senhor….
Está a ver?…Está na França… Passe para cá os dez contos e agora toca a desenrascar…
Foi uma epopeia que vale muitos romances.

Pois ali, em França, se consegue o melhor enchido que conhecemos, Nem pata negra, nem porco preto, nem bísaro lhe chegam aos calcanhares: é o Butelo.
Não poderíamos esquecer a romaria a Rio de Onor onde nunca houve fronteira entre Portugal e Espanha; a aldeia é a mesma, e o falajar confunde-se.
Terras que os senhores políticos nem sabem que existem!
Mas D.João, o primeiro, andou por ali e dizem que foi em Babe que a boda com Filipa de Lencastre, a mãe da ínclita geração, e o apoio militar do Duque de Lencastre foi acordado.
E nesse tempo, nos finais do Sc. XIV não havia nem IP 4 nem ligações aéreas entre Bragança e a capital do Reino.
Outros tempos!

A soberania tinha que se afirmar no terreno, no contacto com as pessoas, no respeito pelos residentes que povoavam e repovoavam para que Portugal fosse jovem…
Agora, somos o sétimo país mais envelhecido do mundo… Dói, não dói?
Mas para quem nos governa, e para o descuidado cidadão intoxicado pelas estorietas da bola, até parece que não é importante; importante é que somos a sétima selecção no ranking da FIFA!

2 comentários:

Anónimo disse...

e que é feito das brasileiras?

Altina disse...

Muito bonita, a arçã florida!