quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

DA PUTA


Sorte filha da puta- Todos vivos!

Equilibrio filho da puta!
Gosto filho da puta!


Puta é uma palavra sem mãe. Tem origem duvidosa porque só lhe encontramos, pelo latim, mãe do materno mais original português, o irmão masculino “puto”. E para significar pequeno…
Ainda no Latim figura o verbo “putare” com o significado estrito de “julgar e que ganhou na passagem para o Português um sentido mais amplo, diverso, subjectivo e suspeito, quantas vezes!
“Putare” ou outro tempo verbal, é um sema que surpreendemos na linguagem jurídica, muito agarrada aos seus étimos. A mais conhecida das figuras jurídicas é o Casamento Putativo, um casamento insuspeito, crédulo, seguro de convicções (que parvoíce!). Mas temos ainda o “reputado” senhor: aquele que tem um bom julgamento da opinião pública, que é respeitado e reverenciado…
Encontramos também o Deputado, o que faz dimanar leis para julgamento, cuja “reputação” é, muitas vezes, duvidosa…
Temos agora um companheiro inseparável, que está quase sempre connosco, que nos ampara, nos ajuda, nos informa e que julga os nossos desempenhos. E lá aparece de novo “puta”: é o computador…. Sem ele estamos fora do mundo e fora de muitas tantas conversas, umas muito putas e outras….muito putas…
Em putas há um sema que eu não suporto. Que me faz estremecer de pânico. Não sei o que o que faria se me obrigassem a uma certa amputação… Que puta de hipótese!
Mas se fosse amputar o dedo grande do pé para continuar uma boa vida…Que puta de sorte!
Nas praxes de Coimbra, “puto” era, e penso que ainda seja, aquele estudante que juntava a terceira matrícula… designação inocente e que marcava a fronteira entre o caloiro e o doutor….
A ambiguidade de “puta” vai de “o melhor de todos” até ao mais safado, o mais sacana, o mais filho da puta.
O Quaresma marcou ao Benfica um golo filho da puta…A mesmo coisa fez o Tarik ao Marselha. Foram golos excelentes, bonitos de ver, de altíssima qualidade técnica, de superior execução na arte da pedibola…
Puta e Cabrão andam lado a lado. No Norte a mãe chama ao filho, quando ele faz uma tratantada, seu “filho da puta” No Alentejo o pai trata por “ filho dum cabrão” o próprio filho quando o rapaz entra por uma patifaria…
Mas quando os putos trazem da Escola umas notações de 5 e 4 são notas filhas da puta ou o rapaz é esperto, o filho dum cabrão!!!!
São modos muito populares, muito próprios de quem se governa com exíguas recursividades linguísticas.
O que aqui acontece , ou terá acontecido, é um transtorno semântico, que, como todas as derivas, aparece num estado de pobreza… linguística, sócio-económica, e cultural que a aristocracia excluiu para enjeitar cumplicidades…
Estes peculiares e ricos recursos não devem ter um tratamento de exclusão na abordagem global da língua.
“Da puta” não é , necessariamente, da meretriz, da marafona, da prostituta, da rameira…
Mas estas também merecem tratamento…
Já o Pascal dizia que o “erro vem sempre da exclusão”….


Sopapos

1 comentário:

Blé disse...

Da puta só poderá ter um defeito - as conotações sibilinas!!! Mesmo assim gosto dela. Enche a boca e é polissémica.
Blé