Gosto de ouver flores, mas fora do altar.
E consigo ouve-las na distância do outro lado do mar!
Ouvo as flores no sorriso do perfume de hoje,
E nas memórias dos meus pampilos de infância
Que sabiam cobrir a milhã agreste e o azevém verdeal.
Ouvo-as na exótica fragrância
Das violetas brancas que bordejavam o carreiro
Por onde descia para o moinho de moleiro
(Violetas brancas… que nunca mais consegui ouver!)
Era um carreiro de encantos até ao moinho
Tocado pela água forte e límpida do ribeiro onde saltava a enguia
Quando, armado com folha de figueira, eu levantava a pedra fria.
Ouvo as flores de Macau com cheiro a mercado vermelho
O mercado de cobras, de baratas, de peixe e escaravelho.
Também ouvo a urze cor de rosa que cresce no monte maninho
E a aquela flor de nome doce, com sabor a luar
Que se chama rosmaninho.
Até ouvo a cuscuta, que não sendo uma flor,
Abraça, com ternura de sustento parasita, e modos de donzela,O tojo, enquanto é tenro, com flor de veludo e amarela.
Eu sei ouver as flores… sejam pálidas ou de berrante colorido
Aprendi a natureza pelos cinco sentidos
E agora, adulto e experimentado, confundo tudo o que distingo
Porque é nesta sinestesia que o poema se tece
E que a saudade cresce e aparece.
sábado, 22 de março de 2008
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1 comentário:
Prefiro ouvir o vermelho sangue das emoções do que encostar as minhas emoções ao violino verde das primaveras lânguidas.
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