quarta-feira, 19 de março de 2008

SOU O PAI DO MEU PAI

Hoje é dia maior para querer o pai que ficou nos meus cinco anos.
Assaltam-me dele todas as saudades.
Foi no ano de mil novecentos e quarenta e sete
Era uma noite cálida de Junho, aos vinte e seis anos,
E já não havia guerra,
Quando o tempo dele parou e ficou sobre terra.

Agora, eu sinto que sou pai do meu pai.
Ele já não joga mais comigo à cabra cega.
Nem me leva na cadeirinha da bicicleta
Nem lhe posso escrever, com linhas tortas, as adivinhas
Dos gatos, dos melros e das andorinhas
Que depois ele lia às gargalhadas
Sem que eu soubesse o porquê das piadas. Tudo no meu traço estava certo e seguro e sem nenhuma trapalhada
Tudo às voltas como pulava o gato e a andorinha voava na estrada.
Depois, para acertar razões e saber quem ganhava
Com ele fazia uma feroz bulha pelo chão da sala…
Mas deixa pai que eu hei de vencer
E tu só vais morrer quando eu morrer. Se eu morrer!

2 comentários:

Anónimo disse...

Um abralo com a emoção que o teu texto me trouxe JF

maria disse...

É muita emoção! Eu ainda tenho pai. Sinto muito por quem já o perdeu, sinto ainda mais por quem o tendo, ainda não o conheceu...