
“O mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança”
António Gedeão
Assim dizia Gedeão. E dizia uma verdade grande, enorme, absoluta.
Por isso indiscutível, mas que as sucessivas governanças deste país nunca entenderam, ou entenderam tão estupidamente que teimam em levar o país para um beco sem saída.
Por força do contágio, o país também mudou. O país fugiu, em parte grande, para o litoral entre Braga e Setúbal.
A mulher passou a profissional, em paridade com o homem, e sai de casa nas horas da

madrugada para chegar tão tarde e tão cansada como o seu parceiro.
A família tradicional estoirou porque a mãe deixou de ser a fada do lar, a guardiã da tribu, a zeladora dos confortos necessários para bem acolher e amparar
Convenhamos que sempre “família é amar e ser amado”.
Para tanto, para que amor se diga e se faça é preciso tempo e lugar...
Ora o tempo e o lugar que faziam o ninho da família de antanho acabou.
Hoje é um corre, corre, sempre com falta de tempo e muitas vezes com acidentes: é ouvir os avisos de trânsito pelas sete da manhã e pelas nove da noite...
Mas há ainda outro factor que amplia, e de que forma, as mudanças estruturantes que não têm réplica estruturada neste nosso país de palavreado balofo e futeboleiro…

Os últimos trinta anos abriram-nos ao mundo e fizeram do mundo, que frequentemente tinha os limites do horizonte visual, uma ervilha que dança na palma da nossa mão.
Entretanto, generalizou-se, e muito bem a pré-primária. (a experiência que tenho de investimento e de controle garantem-me que é o segmento do sistema educativo que melhor funciona).
A pré-primária faz a socialização que outrora a primária, com limitações e precaridade de meios de informação não era capaz de conseguir.
A criança sai da pré-primária com olhos para ver o mundo e pressentir do mundo muitas das suas complexidades.
A fase de “criança”, com interesses e necessidades específicas vai até aos 12-13 anos. Será muito correcto e muito desejável juntar a criança num ciclo único de aprendizagens, com docências diferenciadas e específicas.
Lembro que nunca há actos pedagógicos neutros: ou se forma ou se deforma. Mas é nesta "idade da esponja" que particularmente se pode impulsionar para o sucesso ou trucidar para a desgraça...

Entrando na puberdade, pelos 12-13 anos, entra-se num mundo de turbulências físicas e psicológicas. Já não temos mais criança: temos agora o adolescente com interesses e necessidades específicas que devem ter o seu ciclo e nesse ciclo o conveniente e esmerado acolhimento e amparo
Pelos 16 anos vamos encontrar o jovem pré-adulto, já senhor de si e capaz de assumir responsabilidades a que deve corresponder um novo ciclo que responda às necessidades e interesses específicos desta fase.
Daqui se conclui que:
Primeiro - Na escola não há só crianças, como de forma imbecil e provocatória são tratados todos os alunos em qualquer das diferentes fases de crescimento e desenvolvimento.
Segundo - O ninho antigo de acolhimento estoirou. Pais e mães saem de casa muito cedo e chegam a casa muito tarde.

É necessário encontrar um lugar de acolhimento e amparo para que crianças, adolescentes e jovens não fiquem entregues à rua como ora acontece.
Esse lugar de acolhimento e amparo só pode ser a ESCOLA que está obrigada a dotar-se de Psicólogos, Sociólogos, Assistentes Sociais e Seguranças e todos, usando das necessárias complementaridades, farão o trabalho de acolhimento e amparo.
O professor tem a sua função específica, e de enorme responsabilidade e mérito que é a de incitar à aprendizagem da sua disciplina. E não mais.Porque isso lhe bonda e é tarefa pesada a requerer saberes, aptidões e muita arte.
Ora digam que esta proposta não pode ser base para uma refundação séria e moderna do nosso Sistema Educativo?
O que para aí corre são lérias para enganar e distrair...