sexta-feira, 9 de maio de 2008

E DANÇAM; AS PALAVRAS

As palavras fazem as ambiguidades que são o aloquete para a incerteza dos mistérios.
As ambiguidades nascem insufladas de duas hipóteses.
Não sei se insufladas se prenhes.
As ambiguidades são produtoras e abrem uma rotunda para dois caminhos. São um parto de gémeos.
Na ambiguidade nunca há um ferrolho e portanto nunca sabemos quem persegue ou quem defende.
Quem produz ambiguidades deve saber o que quer.
E quando sabe o que quer deverá querer que o receptor receba, ambiguamente, uma mensagem ambígua.
"Persegue o Zé a Joaquina" é uma perseguição paradoxal. A dupla e, unicamente, dupla perseguição.
É muito bom assim: ficarmos entre perseguir e perseguido.
Porque toda a mensagem é. E é muito melhor se for uma rópia, um corropio incontrolável. Sobretudo quando ninguém controla ninguém.
Quando uma mensagem pode ser duas, o arco da mensagem é muito melhor, mais de sabores, muito mais de valores.
Além de mais abundante e divergente promove a perplexidade.
E no campo de tantas muitas certezas, a perplexidade é inevitavelmente razoável.
Nesta feira de saberes certos só a perplexidade pode não ser um embaraço. Ou então o embaraço é a única certeza, mas que ninguém compra. As pessoas o que querem é a estabilidade que não há.
Toda a mensagem é. Enquanto é produz efeitos. Na decifração dos efeitos está a leitura da mensagem.
Se uma mensagem produz um único e certo efeito é sinal que não presta: é igual a pão, pão; queijo, queijo!!!
Quando ambígua é rica e não tem o dedo apontado.
Mas óptima, mesmo óptima, no limite das palavras,
é a mensagem polissémica, que pode produzir efeitos discrepantes e baralhar as ideias:
“Como eu gostava de te oferecer uma estrela!”

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