segunda-feira, 5 de maio de 2008

AS HORAS

Não gosto de chegar quando tu dormes.
Se dormes, enquanto dormes, estás fora da minha velada adoração.
Olho-te como anjo, como nuvem ou como nevoeiro,
E fico à espera que o galo cante
Ou que um sonho se levante
Quando a madrugada acordar.
Pela noite da noite nunca há devoção
Andamos e topamos com o tronco das flores
Perdidos de amores
E acordaremos entre as dúvidas e as saudades
Entre o sonho e as margens das nossas liberdades

Ouvir-te-ei como se no campanário
Um alerta tocasse o meu diário...

Qualquer hora é hora de capela,
Hora de te escrever um roussinol na lapela,

E depois olhar o sol, como se o sol fosse o meu irmão
Como se o trevo, a leituga, a salsa, o ar
Corressem no desencontro da sua natureza de mão dada
De mão na mão, de mão na mão, de mão na mão!

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