domingo, 11 de maio de 2008

MEU RIO LIMA

Andei contigo pelos meus sítios de nascer e de crescer.
E até ficava muito só na tua ausência.
E até tive uma dor de tristeza. Ou dor de ansiedade, tanto faz.
Queria sempre o teu caminho para atravessar a ponte da minha infância, apetecia-me olhar-te e mirar-te para descobrir o ninho que os patos faziam nas toucas do junco, ou para pesquisar o peixe raro sob as tuas águas límpidas e serenas.
O meu rio é uma prata.
Uma doçura de prata.
O meu rio fala comigo dos meus segredos.
E os meus segredos vão direitinhos para ti.
Só tu sabes os segredos inteirinhos dos meus cinco anos.
Tu imaginas o que eu sentia a ouvir a tua cheia, a ver tua cheia, a atravessar a tua cheia, meu susto de rio, na pequenez dum barco à vara?
A minha mãe rezava às santas todas de todas as seguranças da vida e da morte...
Eu só percebi, ou percebi então, que a vida é frágil e que não importa guardá-la num escaninho como se fosse um trancelim da minha avó.
Foi contigo, meu rio, que aprendi que tudo passa e que nada volta ao que já foi.
Tu rio, o meu rio, rio proibido de nadar, foste uma tentação, uma lição e uma frustração: é por isso que eu nunca aprendi a nadar!!!!
Andaste comigo nas lembranças..
Andas comigo nas lembranças..
Nunca ninguém me ensinou tanto como tu, meu rio.
Nunca ninguém sentiu tanto de ti como eu...

1 comentário:

Anónimo disse...

Este blogue tem altos e baixos marcados, acentuados...O presente texto integra-se nos primeiros, que reforça, amplia, desenhando uma visão encantada e encantatória das raízes,fazendo-nos fruir de uma sensibilidade apurada que nos convoca ao profundo, ao belo...