sábado, 17 de maio de 2008

LER

Ler é colher e recolher significâncias.
Lemos o livro e logo se animam representações mentais.
E nas representações mentais nos vemos e vemos os outros mortais.
E também vemos o mundo das coisas, o seu entorno, o seu adorno.
Lemos a partitura e extraímos melodias.
E das melodias compomos o hino, o salmo, a sinfonia. O doce prazer de ouvir e repetir.
Lemos a paisagem e é um deleite.
E do deleite se faz a cor de muitas pinturas e o pretexto para outras muitas leituras.
Lemos o bulício das feiras e das festas e desta animação tecemos um negócio, uma estrada, um rio, uma ilusão.
Lemos o luar, a lua, a madrugada. E se canta ou não canta a cotovia.
Depois, desenhamos o tempo e partimos a ganhar o novo dia.
Chova que não chova, faça frio ou calmaria.
Lemos o mar, quando azul ou quando encapelado.
E entramos ou paramos na safra de embarcado.
Lemos a flor, o prado verde, a floresta e buscamos da terra o pão, o vinho, a fresca água, o que nos presta.
Lemos, da mulher, o lábio, o seio túmido, o toque inquieto e daí imaginamos o que imagina a mulher quando lê o forte braço, a estatura, o gesto, a envergadura.
Lemos, olhos nos olhos, para adivinhar segredos.
E no chão dos segredos pensamos, dormimos e sonhamos.
E nos sonhos correm medos e enredos.
E por isso, quase sempre, calamos o que vemos olhos nos olhos.
Que é nos olhos, quando há candura, que sempre se colhe a mais fiel leitura.

Sem comentários: