sábado, 2 de fevereiro de 2008
ENTRE O DOURO
Desço a paisagem do Tua entre lembranças e pintassilgos enamorados. Ainda há flores: exóticas flores e sempre abundantes; mas nada de uniforme e banal, nada de regular e geométrico.
A Natureza é o acidente. Vai do penhasco de arrepio onde salta o regato branco até à cova tenebrosa onde repousam mistérios.
Desço muito lentamente para que as imagens possam descansar. Desço lentamente para suster a vertigem que me assalta quando a ravina está tão próxima.
Muito eu gostava de ter tempo, e ter idade, para, por ali, andar aos ninhos, aos grilos, às joaninhas. E ali colher amoras. Então, seria livre até à minha natureza e nem precisaria de meditar, sentado no seguro penedo, à procura dos destinos.
Gosto de me sentir só no meio dos silêncios. É nesses momentos que fico infinitamente perto de tudo.
O abandono prende-me aos prazeres. Prazeres que invento como se o musgo, o tremoço azul, a primavera jovem fossem um pálio solene.
O abandono é nu. Nu de nascença e espontâneo. Tão espontâneo e tão esteticamente belo como aquele burro estático numa ideia fixa.
É. Acho que caí no devaneio. E agora medito. Em êxtase. Seguro e senhor de todas as certezas.
Pasmei.
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1 comentário:
Pasma ando eu com o encanto do mundo das letras e fascínios das ideias. Parabéns por toda as vezes que em devaneios ou não faz-me sonhar... beijocas Regina Fernandes
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