


Deixas as palavras muito tristes
Muito tão tristes como se perdessem um padrinho
Que em cada manhã as acordava de mansinho
Porque tu dormias com elas ao colo
E com elas tecias cálices e corolas
E desenhavas canteiros
Para as flores de todos os jardins.
E sobre a copa das florestas
Vazavas perfume temperado de harmonias
Enquanto pelas ruas desenhadas em franja
Um movimento, um alarido, uma festa colorida
De rosas, de verde, de laranja e melodias.
Tudo era sempre a força e o feitio das palavras nascidas
Da fúria maternal, suave, de geleia
E tudo calmo e transparentes como lua cheia.
Os engenhos rudes e mecânicos
Atiraste sempre para a outra margem
E para eles olhavas como quem olha
Para a horda bárbara e tirânica
Incapaz de perceber
Ou de saborear
A aragem das palavras a desabrochar
Escolheste um dia de Junho
Um dia suave e morno
Um dia vestido de azul do mar ao firmamento
Para adormecer mais suavemente
Um sono sem retorno.
JCR
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