sábado, 2 de fevereiro de 2008

A PALAVRA


Todas as palavras são atrevidas quando são palavras.
E são atrevidas porque são eminentemente humanas.
Só o humano sabe da palavra, procura a palavra, descobre a palavra, ama ou odeia com palavras e sente que a palavra quer entrar mesmo sem prévio aviso.
As palavras somos nós:
Há palavras redondas e inertes, palavras definitivas.E porque definitivas são inúteis.
Há palavras acabadas sob um gesto e palavras sem gesto.
Há palavras que dizem tudo sem dizer coisa nenhuma.
Há palavras extremas e grandes palavras pequenas.
Há palavras repetidas que nunca são exactas: nem sequer sentidas.
Há palavras atadas à conveniente circunstância.
Há palavras doces e palavras azedas.
Há palavras verdade exactamente iguais às palavras mentira
Há palavras perdidas e outras prisioneiras. Também há palavras fora de tudo quando tudo está fora das palavras.
Há palavras abertas como água e palavras fechadas como rancor.
Há palavras que voam ditas e outras palavras que moram escritas.
Há palavras lume e palavras afogadas, mortas, em decomposição.
Há palavras rebeldes, outras bem comportadas e muitas de simulada cerimónia. São as palavras do quando…Porque há palavras tempo e palavras momento, muito diferentes fora e dentro.
Há palavras virgem, vertigem ou esperança e sempre à espera da estrela matinal.
Há palavras gume, palavras de ciúme, palavras mansas ou de pecado original.
Há palavras perfume em feitio de flor…
Há palavras absolutas, infinitas, tão infinitas como a cor do amor.
Mas sempre há sentimentos que nos moram por dentro e não cabem nas palavras.

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